8.6.09

Investimento estrangeiro criou 3448 empregos

Carla Sofia Luz, in Jornal de Notícias

Barómetro Ernst & Young revela que foram gerados menos meio milhar de postos de trabalho face a 2007.

O investimento directo estrangeiro criou 3448 postos de trabalho em Portugal no ano passado. Menos 597 do que em 2007. Segue assim a tendência da Europa, onde o anúncio de projectos caiu, em termos homólogos, 8% no primeiro trimestre deste ano.

O recente barómetro da Ernst & Young sobre a atractividade europeia, divulgado esta semana na conferência mundial de investimento em La Baule (França), confirma que os cinco anos de crescimento sustentado de investimento estrangeiro acabaram no ano passado. Muitos projectos foram revistos e outros suspensos e, com a economia europeia em recessão, as empresas optam por correr menos riscos. O inquérito da consultora a 806 líderes empresariais, realizado entre Fevereiro e Março deste ano, revela que 53% dos inquiridos não têm planos de expansão para este ano.

A situação é particularmente difícil para Portugal, porque, além dos efeitos da crise financeira, mantém-se uma incapacidade, "a médio prazo", em importar investimentos em indústrias de crescimento rápido, como são as áreas de produção de software e da saúde. A constatação é de Gonzaga Rosa, partner da Ernst & Young, sublinhando a atracção de indústrias de desenvolvimento muito lento, como a dos automóveis que foi uma das mais afectadas pela recessão.

Embora a consultora tenha previsto em 2008 a possibilidade de Portugal atrair investimentos do Brasil, da Índia e de Angola, a verdade é que a entrada desses países no território nacional tem sido muito tímida. "Ainda não se nota esse interesse do Brasil e de Angola por Portugal", atenta.

Na Europa, a boa notícia é o aumento de investimentos na logística, nos call centers e nas energias renováveis (o investimento estrangeiro no território europeu em energias renováveis criou mais de seis mil empregos em 2008). "Mesmo nestes anos de incerteza, os projectos de logística e de call centers surgem pelo facto das empresas quererem estar o mais próximo possível dos seus clientes", justifica o consultor Marc Lhermitte.

Energias renováveis

Os dados da Ernst & Young indicam, segundo Gonzaga Rosa, que Portugal poderá ter uma "maior vantagem relativa" no sector das energias renováveis. "Tem sido uma área de crescimento em Portugal e é vista como uma das mais atractivas. A Europa considera que, no futuro, poderá vender tecnologias verdes à China e à Índia".

Para vencer a crise, os investidores inquiridos exigem reformas do sistema financeiro, redução de impostos e mais investimento em projectos de infra-estruturas. No entanto, Gonzaga Rosa alerta que esta receita não é válida para todos os países europeus. "A continuação de um investimento público muito forte conduzirá a um aumento do preço do dinheiro em Portugal, onde as taxas de juro de médio e longo prazo já são mais elevadas do que, por exemplo, na Alemanha.

Circunstância que tornará mais exigente o retorno do investimento dos empreendedores", alerta o consultor, dando conta que essa situação contribui para que o investimento directo estrangeiro no território nacional seja de maior risco do que na Alemanha. De qualquer modo, "já há vários anos que a Ernst & Young constatou que uma das vantagens que o investidor externo vê em Portugal é a qualidade das infra-estruturas rodoviárias, logísticas e de comunicações. Noutros países, como a Irlanda, não existe a mesma qualidade", conclui.