por Catarina Alemida Pereira, in Diário de Notícias
Portugal foi o segundo país com maior recuo anual no número de pessoas empregadas. Países da moeda única registaram a destruição histórica de 1,9 milhões de postos de trabalho, dois terços dos quais em Espanha. Leste lidera a lista da União Europeia.
Que a destruição de emprego atinge níveis historicamente elevados, já os dados nacionais tinham denunciado. Ontem, o Eurostat revelou que o mercado de trabalho português foi um dos mais vulneráveis da Zona Euro à recessão: Portugal foi, a seguir a Espanha, o país onde o emprego mais caiu no espaço de um ano.
Com uma variação homóloga de -1,6% no primeiro trimestre, o País fica acima da média (-1,2%), numa altura em que a Europa apresenta o pior desempenho de que há registo. Nos 12 países da Zona Euro considerados, só Espanha regista um recuo homólogo mais acentuado (-6,4%).
"A queda dos níveis de emprego é fruto da recessão, é certo. Mas hoje, essa queda é um dos travões mais sérios à recuperação das economias. E é a ameaça maior ao recuo dos progressos feitos no combate contra a pobreza e pelo bem-estar", reconheceu ontem o ministro do Trabalho, Vieira da Silva, em Genebra (ver caixa).
Na comparação ontem publicada, o gabinete estatístico da União Europeia analisa os dados já disponíveis para 22 países europeus (ver tabela); De fora fica a Irlanda, onde a recessão tem sido particularmente acentuada e que teria grandes probabilidades de estar entre os primeiros da lista.
Este foi o segundo trimestre consecutivo de destruição de emprego, mas a primeira vez em que se registou uma quebra anual no número de empregados. Na Zona Euro, 1,9 milhões de pessoas deixaram de ter trabalho, dois terços das quais em Espanha. Já na União Europeia há agora menos 2,7 milhões de empregos- 1,9 milhões dos quais perdidos só no último trimestre - com países como a Estónia, a Letónia e a Lituânia a registarem, tal como Espanha, as variações mais expressivas.
Estes dados, apurados com base nas contas nacionais, diferem ligeiramente dos que foram apresentados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE): o INE aponta para um recuo em Portugal de 1,8%, com a destruição de 92 mil postos de trabalho. Com uma metodologia diferente, o Eurostat refere uma quebra de 1,6% no primeiro trimestre, com menos 83 mil pessoas empregadas.
O Governo mostra-se confiante na recuperação do mercado de trabalho português, mas todas as instituições nacionais e internacionais apontam para uma taxa de desemprego acima de 9% este ano. No primeiro trimestre, a taxa superou as piores expectativas ao situar-se nos 8,9%, com quase meio milhão de pessoas oficialmente reconhecidas como desempregadas.
Na Europa, há quem sugira que o pior da recessão pode já ter passado. Mais arriscado é apostar na recuperação do emprego, que tende a reagir com atraso.