in Jornal Público
A inflação de um país não existe. Ou antes: cada pessoa tem a sua própria inflação, consoante os produtos que consome e de acordo com o peso que cada um tem nos seus gastos. Em larga medida, depende do rendimento de cada um.
Mas, num país, o índice de preços no consumidor do INE parte da estrutura média de consumo. A sua matriz é dada pelos resultados do Inquérito aos Orçamentos Familiares e que se traduz em ponderadores para cada um dos produtos consumidos, cujos preços são seguidos pelo INE em diversos estabelecimentos. Por isso é compreensível que poucas pessoas se revejam na inflação oficial.
Por exemplo, essa matriz define que os produtos alimentares e bebidas não alcoólicas representam 18,9 por cento dos gastos totais. Nesta classe, a carne é o produto em que se gasta mais (22 por cento), seguido pelo pão (18,6 por cento), peixe (16,4 por cento), leite, queijos e ovos (14,7 por cento) e a fruta (7,5 por cento). Só aqui estariam 80 por cento dos gastos em alimentos.
A segunda classe é a dos transportes, que abrange os combustíveis - 16 por cento do orçamento total. Depois, vem os gastos em restaurantes e hotéis (10,8 por cento). Mais as despesas (sem rendas) com a habitação, água, electricidade, gás - 10,7 por cento. Calçado e vestuário contam com 5,2 por cento das despesas totais, abaixo da saúde (8,4 por cento), dos bens e serviços diversos (8,4 por cento), do lazer (6,7 por cento) e equipamentos domésticos (6,1 por cento).
Para saber se a inflação oficial é adequada a cada consumidor, é necessário ter presente este tipo de consumo médio. Se as quebras de preços se verificaram em classes de produtos cujos gastos representam um maior peso no orçamento individual, é possível que essa pessoa sinta uma maior descida dos preços. Mas se acontece o inverso - isto é, se as descidas de preços ocorrem em produtos em que se gasta pouco - então a quebra da inflação é algo que está a passar ao lado do orçamento dessa pessoa.