13.6.09

Inflação caiu pelo terceiro mês arrastada pelos bens alimentares e combustíveis

João Ramos de Almeida, in Jornal Público

Sem os produtos com preços mais instáveis, a inflação ainda é positiva, mas a quebra da actividade e o disparo do desemprego estão a rarefazer a procura interna e a roer os preços


A evolução dos preços dos bens alimentares e dos combustíveis fez, em Maio passado, a inflação cair pelo terceiro mês consecutivo e atingir o mais baixo valor de há 30 anos.

Face ao mesmo mês de 2008, a inflação registou uma quebra de 1,2 por cento, quando em Abril a diminuição dos preços foi de apenas 0,5 por cento. Mesmo em relação a Abril passado, a inflação mensal registou uma diminuição de 0,2 por cento, quando, um mês antes, em Abril face a Março passado, ainda se registara uma subida dos preços de 0,2 por cento.

O mesmo sucedeu à inflação média dos últimos doze meses - que compara os índices de preços de Maio de 2008 a Maio de 2009 com os de Maio de 2007 a Maio de 2008. A variação foi mais um recorde -1,3 por cento.

Parte desta quebra de preços relaciona-se com os preços dos combustíveis. Em Maio passado, a sua quebra foi de 6,2 por cento e aconteceu pelo sétimo mês consecutivo, fortemente influenciada pelo nível de preços de 2008. Os seus preços subiram significativamente desde Abril desse ano.

Mas, por outro lado, a descida dos preços está igualmente influenciada pelos preços dos bens alimentares, a classe de produtos que concentra a maior fatia dos gastos dos portugueses (ver caixa). O seu índice de preços está em quebra desde Março passado e parece acentuar-se. Em Março caíra 0,5 por cento, em Abril 1,3 por cento e em Maio caiu 2,6 por cento.

Alimentos à frente

O preço do peixe, dos óleos e do leite foi o que teve maiores quebras. Mas nem todos os produtos têm os seus preços a cair. Retirando a componente dos combustíveis e dos produtos alimentadores não transformados - que possuem uma variação mais conjuntural -, a inflação homóloga ainda está a subir, embora a um ritmo cada vez mais lento. Em Maio foi ainda foi de 0,5 por cento, quando em Abril fora de 0,9 por cento.

Nos últimos cinco meses, aliás, os preços subiram em dois terços dos 160 subprodutos classificados pelo INE em doze classes de produtos - produtos alimentares, bebidas alcoólicas e tabaco, vestuário e calçado, habitação (água, electricidade, gás, etc.), equipamentos domésticos, saúde, transportes, comunicações, lazer, educação, restaurantes e hotelaria e diversos. Mas a variação mensal regista um crescimento dos preços apenas num terço dos 160 subprodutos. E os bens alimentares estão de fora. Por outras palavras, se há um efeito conjuntural, a crise económica parece estar a influenciar igualmente a inflação. Por um lado, a forte quebra do investimento e a subutilização da capacidade produtiva, associados a um disparo histórico do desemprego, estão a provocar uma rarefacção da procura interna. E, por arrasto, dos preços de certos produtos.

Em termos internacionais, o índice harmonizado de preços no consumidor registou em Maio passado, em Portugal, uma queda de 1,2 por cento. Não há valores comparáveis na UE para esse mês. Mas em Abril, apenas a Espanha, Irlanda e Luxemburgo tinham registado quedas de preços.

Numa nota ontem divulgada, o gabinete de investigação económica do principal banco comercial da Alemanha, o Deutsche Bank, aborda a evolução da inflação a médio prazo. Prevê-se que a queda da inflação a nível internacional se pode transformar em quebras de preços por volta do próximo verão. E que esse baixo nível de preços será mantido por pressão do desemprego a crescer até 2010.

Mas, apesar dos planos de ataque à crise, os economistas do Deutsche Bank não estão preocupados com a deflação, mas sim se a inflação subirá rapidamente. Isso poderia acontecer quando os mercados de matérias-primas renascerem e os salários subirem para compensar as perdas verificadas na recessão. Mas a previsão é a de que a inflação permanecerá "extremamente moderada em 2009 e 2010", situando-se entre os dois e três por cento nos maiores países industrializados.