Jorge Heitor, in Jornal Público
Mais de 100 imigrantes tiveram de deixar as suas casas na cidade de Belfast, desde há anos assinalada como propícia a manifestações de racismo
Mais de 100 romenos que na terça-feira tinham sido obrigados a abandonar as suas casas na área de Lisburn Road, no Sul de Belfast, foram transferidos ontem para o Ozone Leisure Centre, depois da intervenção de entidades religiosas, na sequência de uma série de ataques racistas na últimas duas semanas.
O grupo de duas dezenas de família já passou a noite de terça-feira no pavilhão de uma igreja protestante e a sua situação está agora a ser avaliada entre a vereação da cidade, a polícia e os serviços sociais.
Grupos de homens partiram os vidros das janelas e arrombaram as portas das casas ocupadas por romenos, ameaçando-os com armas.
O vice-primeiro-ministro da Irlanda do Norte, Martin McGuinness, considerou tratar-se de um "episódio totalmente vergonhoso" na vida de Belfast. "Necessitamos de um esforço colectivo para controlar estes criminosos que há na sociedade e que pretendem claramente atacar mulheres e crianças vulneráveis", acrescentou.
Uma grande parte das famílias romenas afirma não pretender regressar às casas em que habitava e de onde foi escorraçada; e muitas delas declaram mesmo que tencionam deixar o Ulster, devido às manifestações racistas de que têm sido alvo.
A presidente do município, Naomi Longe, afirmou que não pretende ver a comunidade "expulsa de Belfast", pois entende que tem todo o direito de estar ali e faz mesmo parte da cidade.
O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, juntou-se aos que condenaram os ataques e disse mesmo: "Espero que as autoridades sejam capazes de tomar todas as medidas necessárias para as proteger".
O clima de ódio acentuou-se com o ataque a um comício organizado em apoio aos imigrantes oriundos do Leste europeu. Alguns jovens lançaram garrafas e fizeram a saudação nazi aos que participavam na manifestação contra o racismo.
Os romenos, incluindo uma bebé de cinco dias, refugiaram-se primeiro numa casa que não tinha espaço suficiente para todos eles, pelo que um reverendo, Malcolm Morgan, os levou para um pavilhão da respectiva igreja.
"Não podemos permitir que o racismo se torne o novo sectarismo", depois das antigas divisões entre protestantes e católicos da Irlanda do Norte, comentou o deputado Jeffrey Mark Donaldson, do Partido Democrático Unionista (DUP).
A polícia declarou que vai aumentar as patrulhas, mas não acredita que os ataques aos romenos tenham sido sistematicamente organizados.