in TSF
Morreu o "pai dos pobres" de Andhra Pradesh
Vicente Ferrer, um espanhol que ajudava dois milhões e meio dos mais pobres dos pobres na Índia, morreu ontem, em Anantapur.
A Espanha e a Índia estão hoje unidas no luto por um homem, ex-revolucionário e ex-jesuíta, que dedicou a sua vida a ajudar os mais necessitados e que rompia com todos os estereótipos do missionário europeu.
Ferrer nasceu em Barcelona em 1920. Aos 16 anos filiou-se no POUM (Partido Operário de Unificação Marxista) e combateu durante três anos na Guerra Civil de Espanha.
Com a derrota dos republicanos procurou refúgio em França, mas foi detido e repatriado para Espanha, ficando internado num campo de concentração. As autoridades espanholas obrigaram-no então a cumprir o Serviço Militar Obrigatório no novo exército espanhol. Com tudo isto, passou sete anos a combater, ou preso, ou no exército.
Livre de tais constrangimentos, ingressou nos Jesuítas para poder ajudar os outros. Partiu para a Índia em missão, mas as suas actividades, e porventura o seu passado revolucionário, tornaram-no suspeito aos olhos dos seus superiores e de forças políticas indianas. Foi expulso da Índia em 1968 mas permitiu-se o seu regresso um ano depois, para Andhra Pradesh, um dos estados da Índia com maiores problemas de pobreza.
Nesse mesmo ano abandonou os Jesuítas, casou com uma jornalista inglesa e deu início à Fundação Vicente Ferrer com apenas seis funcionários. Hoje são 1800. A fundação conta com cerca de 130 mil sócios em Espanha e ajuda dois milhões e meio de indianos. Gere cinco hospitais e centenas de escolas. Em 1998 o seu trabalho foi reconhecido com a atribuição do Prémio Príncipe das Astúrias.
Vicente Ferrer morreu ontem à noite, aos 89 anos, vítima de problemas respiratórios. Encontrava-se na companhia da sua mulher e dos seus três filhos, mas são aos milhões os que se sentem órfãos com a sua partida.