Nuno Miguel Ropio, in Jornal de Notícias
Baixo rendimento veda acesso a nova casa. Reside num terceiro andar, o que lhe impede os movimentos
Aguarda há dois anos por uma casa num bairro social da Câmara Municipal de Lisboa. Espera que o filho, com 44 anos, se consiga tornar independente, depois de uma vida inteira dedicada aos pais. Sofre com a expectativa de poder voltar a conviver com a vizinhança. Na verdade, para Carminda Pacheco a vida resume-se a um adiar consecutivo daquilo que pensava poder vir a encontrar aos 80 anos.
Despejada em Outubro de 2007, da casa onde vivia na Graça, em Lisboa, para poder dar lugar a um empreendimento imobiliário, a octogenária vive, agora, enclausurada num terceiro piso de um prédio na mesma freguesia. Motivo? A doença renal que a atinge, impedindo-a de se mover com facilidade, e o baixo rendimento familiar - pensão de reforma e o salário do filho - que impossibilita arrendar um rés-do-chão.
"A minha mãe está a ser submetida a um castigo, como se tivesse cometido um erro na sua vida", explica Luís Pacheco, filho da idosa, lamentando-se pelo seu dia-a-dia, que se resume, além do trabalho pelo qual aufere pouco mais que o ordenado mínimo nacional, a fazer companhia à mãe. Ainda assim, Carminda aguarda até à meia-noite pela chegada do filho a casa. "Ela [idosa] faz hemodiálise três vezes por semana e os bombeiros começam a ficar chateados de a vir buscar a casa, porque rasgam os blusões nas escadas apertadas", acrescenta.
Segundo Carminda, os problemas começaram quando em 2007 teve de ser internada numa unidade hospitalar de Lisboa. "O senhorio aproveitou o meu filho estar sozinho e pressionou-o a sair da nossa casa. Quando regressei do hospital já o meu filho tinha arranjado esta casa, com o dinheiro que se recebeu da indemnização. E mesmo sendo de renda, ainda tivemos de fazer as obras", descreve.
Os pedidos a várias instituições de solidariedade não surtiram qualquer efeito. O município também não lhes pode ceder uma habitação, até porque têm um rendimento que situa acima dos 250 euros mensais. "Cheguei a esta idade esquecida. É uma tristeza", admite a idosa.