Catarina Almeida Pereira, in Diário de Notícias
O défice de qualificações vai continuar a ser um problema em Portugal ao longo da próxima década. Os mais de 6,7 milhões de trabalhadores pouco qualificados, em 2007, representavam 75,1% da população com mais de 15 anos. Um valor que deverá descer para 57,8% em 2020, mas que continuará a ser o mais elevado da Europa.
São dados do Centro Europeu para o Desenvolvimento da Formação Profissional (Cedefop) que constam de um relatório ontem divulgado pela Comissão Europeia. A progressão dos restantes 24 países analisados será, em média, menos acentuada, mas incapaz de alterar a posição relativa de Portugal. A proporção da população com o ensino básico, que se situava nos 38,1%(2007) deverá descer para 29,3% (2020).
Baixas qualificações podem significar menos riqueza e fracos salários, explica Paula Carvalho, economista do BPI. "Existe um problema de base, que leva muitos anos a corrigir. Mas mesmo a juventude não compara bem nos principais indicadores, com muita gente a abandonar o ensino secundário. Há progressos, mas que não se registam a uma velocidade suficiente para recuperar o tempo perdido", refere, num comentário ao estudo. "Uma força laboral pouco qualificada é menos capaz de gerar riqueza, que está na base da performance económica e do bem-estar". Ou seja, do acesso a "melhores salários e bens de consumo", refere a economista.
O relatório avalia, ainda, a proporção de trabalhadores muito qualificados sobre o total. Portugal estava, em 2000, no último lugar da lista, com apenas 6,6% da população com mais de 15 anos com o ensino superior. Depois de ter ultrapassado a Itália, deverá ainda subir dois lugares no ranking até 2020 (ver caixa).
A tendência para o aumento da população qualificada é comum a todos os países europeus. Para chegarem a estas conclusões, os autores assumem que a evolução registada nos últimos 5 a 10 anos, em parte motivada pela renovação demográfica, se deverá continuar a registar.
Mas num cenário mais pessimista, assumem, contudo, que os efeitos da crise económica podem comprometer a tendência. "Inicialmente, a crise pode aumentar a aquisição de escolaridade ou de qualificações porque as pessoas adiam a entrada num mercado de trabalho deprimido. A longo prazo, e à medida que os constrangimentos financeiros começam a afectar a economia real, isso pode desencorajar o investimento em capital humano."