3.9.09

Europeus voltaram a aumentar o consumo e salvaram economia da queda livre

Por Sérgio Aníbal, in Jornal Público

No segundo trimestre, o consumo privado aumentou na zona euro pela primeira vez em mais de um ano


Foi graças ao abrandamento da queda das exportações e ao regresso às subidas do consumo privado que a economia da zona euro conseguiu, no segundo trimestre deste ano, limitar as perdas que vem a sofrer há já um ano, aproximando-se do fim da recessão mais prolongada das últimas décadas.

Depois de, no mês passado, se ter ficado a saber que o PIB europeu tinha, entre Abril e Junho, registado uma descida de 0,1 por cento face ao trimestre anterior, ontem o Eurostat revelou, para o total da zona euro, a evolução dos indicadores que compõem o PIB. E os números mostram uma economia onde as famílias começam a recuperar do recorde de pessimismo que se tinha instalado, consumindo mais, e onde as empresas, embora ainda a cortar no investimento, têm a boa notícia do fim da queda livre dos mercados para exportação.

No segundo trimestre do ano, o consumo privado cresceu 0,2 por cento face ao período anterior, a primeira subida em mais de um ano e que se segue a um corte de 0,2 por cento durante os primeiros três meses de 2009. Para este resultado deverão ter contribuído a melhoria progressiva dos indicadores de confiança, a descida dos preços e o corte nas taxas de juro.

Nas exportações, depois de dois trimestres em que a variação negativa em cadeia foi de 7,2 e 8,8 por cento, passou-se no segundo trimestre deste ano para um corte de "apenas" 1,1 por cento. Um resultado que comprova que os mercados para onde os países europeus exportam começam a limitar o ritmo de contracção, com especial destaque para os EUA, onde um volumoso plano de estímulo começou a ser posto em prática.

Ao nível do investimento, também se regista um abrandamento do ritmo de queda em períodos anteriores. Ainda assim, a descida cifrou-se em 1,3 por cento, um sinal de que as dificuldades de acesso ao financiamento e os níveis de confiança baixos limitam a capacidade dos empresários para arriscar mais no início da retoma.

Alguns países, como Portugal, Alemanha e França, conseguiram mesmo registar uma variação positiva do PIB no decorrer do segundo trimestre (em Portugal o crescimento face ao trimestre imediatamente anterior foi de 0,3 por cento), colocando um ponto final no período de recessão técnica que se verificava desde meados do ano passado. No entanto, ainda não estão disponíveis os dados que permitam compreender de que forma foi conseguido, em cada país, esse desempenho.

Revisões em alta


Os resultados do segundo trimestre e os indicadores que, depois disso, já foram conhecidos estão a levar à revisão de algumas das projecções mais pessimistas. Ontem, um dos membros do departamento de investigação económica do FMI, Jorg Decressin, revelou que a instituição está já a preparar uma revisão em alta das previsões de crescimento para o próximo ano feitas em Julho. O Fundo esperava um crescimento de 2,5 por cento em 2010, mas agora já aponta para um valor próximo de três por cento (precisamente o limite habitualmente usado para definir uma recessão mundial).

Também ontem, Robert Zoellick, do Banco Mundial, manifestou a sua confiança relativamente ao que diz ser uma "verdadeira recuperação global". Este responsável defendeu que os recentes sinais de aceleração na China contribuem de forma decisiva para este desempenho.

Hoje, a OCDE apresenta as suas previsões interinas para as maiores potências, esperando-se uma melhoria das projecções de há três meses.

A acompanhar esta melhoria dos indicadores, permanecem, no entanto, declarações de prudência. Jorg Decressin avisava que "o principal risco é o de que as pessoas confundam a recuperação que agora vemos por uma recuperação auto-sustentada e comecem a retirar as políticas de suporte de forma prematura".