Fernando Sobral, in Jornal de Nogócios
Enquanto a classe política discute animadamente o TGV como se ele fosse uma linha ideológica determinante ou se devemos ter um Estado um bocadinho mais anémico ou com um pouco mais de músculo, olha-se para o País e descobre-se aquilo que não faz cócegas aos líderes partidários. É a pobreza que se contrapõe à riqueza urbana. É o silêncio que os fogos vão ampliando no interior. É a desertificação feita pelo vento forte do fecho das fábricas que sustentavam concelhos e onde só ficam os mais velhos, presos a um mundo que desaparece e não deixa mais ilusões. Quando se olha para o que sucedeu no Sabugal, um concelho praticamente dizimado pelo fogo, pensa-se sobre o verdadeiro peso dos debates entre líderes partidários que agora vão aquecer as noites nas televisões. No Sabugal foram homens e mulheres, muitos sem segurança social e sem riqueza própria, que perderam tudo: as colheitas, as cabras, os palheiros. Perderam o que restava da ilusão neste País que esquece quem vive nos grandes centros urbanos. É um País arruinado este que vive, como o "CM", há dias referia, com 273 euros de pensão média em Bragança, com 288 euros de pensão média Guarda, com 297 euros de pensão média em Viseu. Quando se olha para os fogos do Sabugal percebe-se melhor o que Portugal e as suas elites fizeram ao interior: desprezaram-no para sempre. Isto não tem a ver com recuperação económica, equilíbrio financeiro da segurança social, com auto-estradas ou aeroportos. Tem a ver com um País esquecido pelas suas elites.