Lucília Tiago, in Jornal de Notícias
Menos procura de crédito e mais incumprimento no consumo e empresas.
Os sinais de recuperação de que já fala o presidente do BCE decididamente não chegaram ainda a Portugal, onde os bancos viram o crédito malparado das empresas duplicar (somando já 4,29 mil milhões) e o dos particulares subir para 3,65 mil milhões de euros.
Os dados sobre a evolução do crédito em Julho já disponibilizados pelo Banco de Portugal dão conta de um forte abrandamento na procura de empréstimos e de um agravamento do incumprimento. Mas em ambas as situações, os números relativos às empresas são bastante mais acentuados do que os verificados junto dos particulares. E esta constatação é válida tanto para as comparações mensais (mês imediatamente anterior) como paras as homólogas (igual mês do ano passado).
Há ainda uma outra conclusão a extrair dos dados: apesar de o saldo total do crédito às empresas ser inferior ao volume total dos empréstimos às famílias, o mal parado atinge um valor mais elevado no caso das empresas. O que significa que o peso da cobrança duvidosa no total dos empréstimos é mais acentuado neste grupo.
Em Julho, os particulares deviam aos bancos 134,66 mil milhões de euros, ou seja, mais 422 milhões do que no mês anterior e mais 1,59 mil milhões face a Julho de 2008. Já os valores da cobrança duvidosa indicam que estes totalizam 3,66 mil milhões de euros (mais 33,76% que no mês homólogo), tendo aumentado 156 milhões de euros (4,40%) entre Junho e Julho últimos.
Esta subida do malparado é acima de tudo explicada pelo incumprimento nos créditos para consumo e outros fins. Na realidade, entre os três segmentos de empréstimos considerados (habitação, outros fins e consumo) este último responde por mais de metade do agravamento mensal do valor em incumprimento. Na habitação - que representa cerca de 80 do endividamento -, o malparado manteve-se relativamente estável em termos mensais, tendo ainda assim subido 22,3% face a 2008.
Do lado das empresas, os dados do Banco de Portugal mostram uma retracção do saldo do crédito concedido de 221 milhões de euros na evolução mensal, ainda que a comparação homóloga ainda denote uma subida. No seu conjunto, as empresas deviam em Julho 117,5 mil milhões de euros aos bancos.
Mas é a coluna do malparado que evidencia ainda assim uma evolução mais desfavorável. Este soma já 4,29 mil milhões de euros, valor que representa um aumento de 160 milhões de euros face ao mês anterior e de 2,16 mil milhões de euros em relação a Julho de 2008, o que significa uma crescimento de 101,% em um ano.
Ontem a Associação de Instituições de Crédito Especializado (Asfac) divulgou os resultados do primeiro semestre que mostram que o recurso ao crédito caiu 24% por comparação com o semestre homólogo de 2008. Para esta quebra contribuíram essencialmente as descidas na procura de crédito para consumo, para aquisição de carros e de artigos para o lar.
Os dados mostram ainda que são essencialmente os particulares que recorrem a estas instituições para se financiarem: no segmento do chamado crédito clássico (que inclui o crédito ao consumo e para empresas e representa cerca de metade do total concedido), perto de 92% destina-se a famílias e apenas 8% é contratado por empresas.
Nestes seis meses de 2009 estas instituições emprestaram 2,2 mil milhões de euros de crédito, tendo celebrado 257.967 contratos de crédito clássico. Os firmados por particulares (para consumo) tiveram uma valor médio de 3639 euros, o que evidencia uma quebra face a 2008.