4.9.07

30% da população mundial sofre de algum tipo de doença mental

Ana Oliveira Rodrigues, in Jornal de Notícias

Dois terços de doentes mentais não têm qualquer tipo de tratamento ou, se o têm, este é feito indevidamente, garantem vários especialistas


Ointeresse pela mente e pela consciência humanas foi, ao longo dos tempos, tema de reflexão no seio das culturas ocidentais, de Salvador Dali e Van Gogh, na pintura, a Fernando Pessoa, na literatura, passando pela psicanálise de Freud. Não obstante, a negligência relativa a distúrbios mentais é um dos problemas mais graves do mundo moderno, apontados pela revista "Lancet". Mais de 30% da população mundial enfrenta algum tipo de problema mental e pelo menos dois terços destes doentes não são tratados ou são-no inadequadamente.

Segundo os seis artigos, publicados com o apoio de 39 especialistas, a falta de tratamento de problemas mentais aproxima-se dos 90% em muitos países desenvolvidos. Quanto aos países subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento, a carência ou a ausência de recursos financeiros para a saúde mental é mais acentuada (além das fracas infra-estruturas), caso grave se se tiver em conta que mais de 85% da população mundial vive em 153 desses países.

Em consequência deste desinvestimento, "uma em três pessoas com esquizofrenia e um em dois doentes com outros problemas mentais não recebem nenhum tratamento", alertam os entendidos.

De acordo com os cálculos destes especialistas, proporcionar os cuidados necessários a estes doentes custaria dois dólares, nos países subdesenvolvidos, e três a quatro dólares por pessoa, nos países em vias de desenvolvimento, o que é considerado baixo se comparado com os custos de outras doenças a nível mundial.

O estudo adianta, ainda, que um terço dos países mundiais não possui nos respectivos orçamentos uma verba específica para a saúde mental e um quinto dos que têm absorve menos de 1% do total dos gastos com a saúde.

"Quase 70% dos países africanos e 50% dos países do Sudeste asiático referem que gastam menos de 1% do seu orçamento para a saúde na área mental, enquanto mais de 60% dos países europeus gastam mais de 5% dos seus orçamentos na saúde mental" - revelando, para a revista "Lancet", "lacunas enormes na provisão de saúde mental" entre países ricos e menos ricos.

Os especialistas sublinham também que cerca de um terço dos 191 países da Organização Mundial de Saúde não tem leis sobre saúde mental, o que impede a elaboração de qualquer plano nacional sobre o tema.

Em Portugal, segundo dados do Inquérito Nacional de Saúde 2005/2006, estima-se que cerca de 30% da população com mais de 15 anos sofra de problemas psicológicos.