in Jornal Público
Os adolescentes oriundos dos países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP) envolvem-se mais em comportamentos de violência, consomem mais tabaco, haxixe e álcool e têm comportamentos sexuais com maior risco para a saúde do que os portugueses, segundo um estudo ontem publicado.
O estudo Comportamentos de Saúde de Adolescentes Migrantes e o Efeito Protector da Relação com as Avós, divulgado na Revista de Estudos Demográficos do Instituto Nacional de Estatística, apresenta as diferenças dos comportamentos entre adolescentes migrantes oriundos dos PALOP e os portugueses. Também analisou os contextos em que estão inseridos, nomeadamente dados sócio-demográficos, envolvimento com escola e amigos.
Da autoria das investigadoras da Universidade Nova de Lisboa Tânia Gaspar e Margarida Gaspar Matos, o estudo baseou-se num questionário feito a 919 adolescentes, com média de idades de 14,4 anos, que frequentam escolas públicas de Oeiras, Marvila (Lisboa), Amadora e Loures.
De acordo com a investigação, os adolescentes dos PALOP têm menos actividades de ocupação de tempos livres do que os portugueses, têm hábitos alimentares menos saudáveis e faltam mais à escola. No questionário, os jovens dos PALOP expressam maiores dificuldades de comunicação e são os que mais referem não viver com o pai ou com a mãe.
O estudo mostra igualmente que os pais dos jovens migrantes têm uma situação educacional e profissional mais desfavorável. Os adolescentes dos países africanos de língua portuguesa salientam que é difícil fazer amigos, mas referem que saem mais vezes à noite com os colegas do que os jovens portugueses.
O estudo analisou ainda, através de entrevistas com 45 jovens dos PALOP e técnicos de intervenção que trabalham com estes adolescentes, os comportamentos de saúde e factores protectores, especialmente o papel das avós. Segundo a investigação, pertencer a uma minoria étnica e ter um estatuto sócio-económico baixo surgem como factores associados a comportamentos de risco para a saúde. Estes dois factores contribuem para a exclusão social, discriminação e estigmatização, fenómenos que podem ser combatidos, segundo o estudo, com a promoção de competências pessoas e sociais, interajuda e papel activo dos jovens. Para estes adolescentes, a avó apresenta-se como um forte factor de protecção, devendo ser utilizada na promoção da saúde, conclui o documento.
Os contextos em que os filhos de imigrantes africanos estão inseridos justificam a diferença de atitudes.