Sena Santos, in Diário de Notícias
Viva a música! A rebeldia contra a pobreza gerou uma experiência musical que é formidável programa de inclusão social. "Milagre. Crianças e jovens das classes humildes da Venezuela fazem trabalho musical cúmplice que dá sentido, futuro e educação às suas vidas. Grandes maestros (Simon Rattle ou Claudio Abbado) estão no projecto que começou há 32 anos, por iniciativa de um visionário e revolucionário, com a vontade dos generais heróicos: José António Abreu. Começou em Fevereiro de 75 a ensinar música a 25 miúdos e lançou na garagem o embrião da orquestra. Hoje são 270 mil os que com entusiamo e o instrumento musical vão a um dos 120 núcleos das escolas, bairros e aldeias ou mesmo na selva, e, de manhã à noite, aprendem a superar tudo. Dizem que é ali que a sua vida ganha sentido. Têm entre os 7 e os 16 anos e temperam a energia da idade com música. Chave do sistema é funcionar em grupos. Em vez de se fomentar o esforço solitário, aposta-se no colectivo. Pouco tempo após estar no grupo, cada criança começa a integrar uma orquestra. Acostumam-se à disciplina, ganham paixão, desejo de superação, orgulho. Ganham identidade. É fascinante observá-los" [Jesús Ruiz Mantilla, no El País].
O homem que abriu esta harmonia, José António Abreu, "venerado como um Ghandi ou um Mandela", explica que cada criança "agarra o seu instrumento musical como uma tábua de salvação" e confia que "Portugal e Espanha se juntem a esta experiência e em comum criem a primeira Orquestra Sinfónica Ibero-Americana".
Estatística em França: "Há mais 260 mil pobres " [Libération]; "Sete milhões de franceses vivem com menos de 800 euros por mês" [Le Parisien].
"Todos os dias somos metralhados com cotações na bolsa, mas tudo parece indiferente aos números da pobreza" [Le Monde]; "a questão não é só a dos euros que faltam, é a da frustração, da vergonha, da estigmatização" [Sud-Ouest].