Rudolfo Rebêlo, in Diário de Notícias
No último ano, os dinheiros em casa não abundaram
Os portugueses afirmam que as suas poupanças estão ao nível mais baixo de sempre e que não vão conseguir poupar dinheiro nos próximos 12 meses. Falam de dificuldades em esticar o orçamento doméstico e vão ter cortar nas grandes compras, de acordo com os resultados de um inquérito divulgado esta semana pela Comissão Europeia, em Bruxelas.
Em pleno período estival, os portugueses olham para os últimos 12 meses e não têm dúvidas: os dinheiros em casa não abundaram. E, para os próximos tempos, estão ligeiramente mais pessimistas do que estavam há dois ou três meses.
O que está a desanimar as famílias? Com a situação financeira degradada e a cortar na factura com as compras nos supermercados (ver caixa), as poupanças - provenientes dos salários e outros rendimentos, como rendas imobiliárias ou juros de aplicações em depósitos ou acções - estão ao nível mais baixo de sempre. Depois dos luxemburgueses e dos dinamarqueses (mas estes com bom poder de compra e de consumo), os portugueses estão em terceiro lugar entre os cidadãos da União Europeia (27 países) que declaram maiores dificuldades em constituir poupanças.
Os mais recentes dados sobre a economia, publicados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), refere que as famílias estão a gastar menos em produtos de consumo corrente, como alimentares. Isto explica mesmo parte da desaceleração da economia verificada no segundo trimestre do corrente ano, já que, na ausência de compras, o volume de negócios das empresas fica afectado.
Também para os próximos 12 meses as expectativas das famílias em amealhar dinheiro estão ao mais baixo nível de sempre. Isto pode ser explicado por quebras dos rendimentos e uma apreensão quanto à manutenção do emprego. Em 2006, os salários registaram uma queda de 0,5% em relação ao ano anterior, de acordo com dados publicados pelo Comissão Europeia.
Por outro lado, o número de desempregados tem vindo a aumentar. Portugal, apresenta a mais alta taxa de desemprego (7,9%) entre a UE e a expansão da economia - actualmente a um ritmo de 1,8% - não é suficiente para criar mais postos de trabalho. Por tudo isto, nos próximos 12 meses os portugueses não vislumbram progressos na situação económica do país e estão entre os cidadãos mais pessimistas da área euro.
Sem conseguirem aumentar o pé--de-meia, com rendimentos corroídos e temendo o aumento do desemprego, as grandes compras, como a aquisição de casas ou carros, não estão nos planos mais imediatos das famílias.
Os dados do inquérito da Comissão Europeia revelam que a pré-disposição dos consumidores em comprar bens não variou muito nos últimos meses, o que não surpreende os economistas e está em linha com as previsões das instituições. Por exemplo, o Banco de Portugal estima um acréscimo de apenas 1,5% no consumo (privado) para 2007, quando em 2004 o aumento das compras foi de 1,2%.
Apesar do pessimismo das famílias, os lojistas confiam na manutenção do actual nível de vendas. Em pleno Agosto, relatam uma ligeira melhoria nos negócios, o que pode ser explicado pelo efeito dos subsídios de férias dos consumidores.