Nuno Miguel Ropio, in Jornal de Notícias
Florbela Carolino viu a sua barraca demolida na última quarta-feira
São já três as noites consecutivas em que alguns dos moradores da antiga fábrica da Granja, em Vialonga (Vila Franca de Xira) - que na última quarta-feira viram as suas casas ilegais serem demolidas, devido a um despacho judicial - continuam a dormir ao relento. Segundo aqueles desalojados a última proposta da Segurança Social passava por alojar provisoriamente quarenta pessoas dentro de quatro quartos, numa pensão, o que foi rejeitado por uma grande parte das pessoas. Ainda assim, mais de 80 dos 120 membros da comunidade cigana, que ficou sem as suas barracas, permanecem em pensões de Alcântara (Lisboa).
"Apareceu uma senhora da Segurança Social de Vila Franca de Xira a dizer que havia uns quartos. Mas queriam enfiar os que ficaram para trás ao segundo dia dentro do mesmo espaço. É claro que recusei porque podíamos viver em barracas mas somos pessoas de respeito. Estamos fartos de nos digam que é tudo provisório", garantiu, ao JN, Carlos Filipe, um dos desalojados, que desde as 6 horas do dia 26 de Março dorme na rua com os filhos e a mulher. A habitação de Carlos Filipe era uma de 30 que foi demolida pelas forças de segurança, sem qualquer confronto ou resistência.
O JN tentou obter uma resposta ontem da Segurança Social mas tal não foi possível até ao fecho de edição. Já a autarquia de Vila Franca de Xira assumiu o compromisso - o único, em todos estes dias - de que amanhã as 40 crianças poderão regressar à escola que frequentam em Vialonga, no primeiro dia de aulas após a Páscoa. A acção social do município disponibilizará um autocarro para as ir buscar - onde quer que estejam alojadas - e levá-las até ao estabelecimento de ensino.
Apesar de se tratar de uma comunidade que está bem longe de criar problemas sociais, tendo em conta que há 20 anos que estava inserida naquela aldeia em frente ao Mercado Abastecedor de Lisboa, há muito que o proprietário pretendia reaver o seu terreno. Tendo para isso recorrido aos tribunais, que decidiram a favor do despejo e demolição dos aglomerados habitacionais, a maior parte deles, dentro de uma antiga fábrica em ruínas que existe no espaço.