António Cotrim / lusa, in Jornal de Notícias
Casa está sobrelotada e as crianças não podem estudar em condições
A Casa Sol, onde vivem crianças seropositivas, está sobrelotada. Num espaço construído para onze vivem 21. A direcção vê-se obrigada a recusar novos meninos, carregando o peso de saber que pelo menos dois estavam a prostituir-se nas ruas da capital. Inaugurada em 1998, a casa excedeu a sua capacidade logo no ano seguinte, altura em que era já ocupada por 15 crianças. "Estavam infectadas, eram órfãs de pais com Sida e muitas estavam doentes. Ninguém as queria", lembra a presidente da Sol, Teresa D´Almeida. Talvez por isso, a única instituição em Portugal especificamente criada para acolher crianças seropositivas tenha tido sempre uma "interminável" lista de espera. A presidente reconhece que "já não existem sequer condições para as crianças estudarem", mas admite ser difícil recusar novas entradas. A história de Filipa (nome fictício) é exemplificativa da situação. Abandonada à nascença, viveu até aos 7 anos num hospital algarvio, porque "ninguém a queria". Quando soube do caso, a direcção da Sol não conseguiu voltar as costas e acabou por recebê-la. "Quando cá chegou assustava-se com tudo, com o movimento e com a confusão normal de uma casa, porque estava habituada àquele silêncio dos hospitais", lembra Teresa D`Almeida. Hoje, Filipa tem 12 anos e está completamente integrada. Mas nem todos os casos tiveram desfechos felizes. Teresa recorda dois "Sei de pelo menos duas crianças a quem recusámos a entrada e que depois se estavam a prostituir na rua: uma rapariga, que ao ser violada ficou infectada com o vírus, e um rapaz de oito anos que também se andava a prostituir. Não há dia nenhum que não pense nessas crianças". "Quando surge um caso complicado, puxamos uma cama para aqui outra para acolá, juntamos mais um colchão e acabamos por aceitar a criança", explica a directora da casa Inês Gonçalves. Mas, agora, a instituição atingiu o limite. Num espaço para 11 vivem 21. Preocupado com a situação, o presidente do Instituto de Segurança Social (ISS) apresentou recentemente uma solução a Teresa D´Almeida: a cedência de um prédio na Lapa. Mas primeiro, o imóvel tem de ser libertado, o que poderá "acontecer já nos próximos dias", e depois terá de ser alvo de obras de requalificação para poder receber as crianças, explicou à Lusa o responsável do instituto, Edmundo Martinho. Até lá, a presidente da associação tem de lidar com os problemas de sobrelotação, que reconhece "já não tem condições nem para as crianças estudarem".