Alexandra Marques, in Jornal de Notícias
Ficar em casa a educar os filhos ainda é entendido como natural
Os portugueses são, no mínimo, estranhos em matéria de relações conjugais e familiares. Aceitam com naturalidade o divórcio e as uniões de facto, mas consideram que o facto de as mães trabalharem fora de casa é prejudicial para os filhos.
Esta é uma das conclusões do estudo da socióloga Sofia Aboim, que constitui o primeiro capítulo (sobre Portugal) do livro "Família e Género em Portugal e na Europa", organizado pelas investigadoras Karin Wall e Lígia Amâncio, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
Modernos mas não muito
Como sublinha a autora, os inquiridos portugueses manifestaram "posições muito modernistas nuns aspectos e muito tradicionalistas noutros". Por exemplo, referem não ter qualquer problema em partilhar as tarefas domésticas com o cônjuge, mas ao mesmo tempo relacionam o bem-estar dos filhos à presença permanente da mãe, considerando "que o trabalho profissional da mãe tem um impacto negativo nas crianças pequenas".
Não se julgue que, nestas matérias, os homens são mais conservadores. Porque, curiosamente são as mulheres que "mais associam a ausência de filhos a uma vida vazia e da relação negativa entre emprego feminino e maternidade".
Esta posição é defendida por outros dois povos europeus, um deles bem distante cultural e geograficamente, já que se localiza na Escandinávia. "No quadro da comparação europeia, os portugueses situam-se ao lado dos espanhóis e dos finlandeses num 'liberalismo moderado' que conjuga algum familiarismo com uma visão igualitária da divisão conjugal do trabalho".
A autora revela ainda que, nos sete países europeus envolvidos no estudo - Reino unido, França, Noruega, República Checa, Hungria, Finlândia e Portugal -, as mulheres assumem posições mais modernistas e igualitárias, enquanto a diferença de género (entre homens e mulheres) nas respostas dadas varia consoante o país. Em França, porque os homens têm uma atitude mais favorável ao lugar da mulher em casa, na Suécia são eles que gostariam que as mães recentes optassem por ser apenas donas de casa.
A investigação permitiu ainda averiguar que "não são sempre as mesmas variáveis a ter algum impacto nas atitudes face à família e aos papéis de género". Ou seja, as atitudes mudam conforme a idade, o sexo, a situação profissional, a escolaridade, a prática religiosa e o posicionamento político, entre outros factores.