in Jornal de Notícias
A violência contra as mulheres ganhou visibilidade nos media nas últimas décadas, sobretudo nos casos extremos como o homicídio, mas existe "uma violência endémica" grave que continua na obscuridade.
A análise é de Rita Basílio de Simões, que lança hoje em livro a dissertação de mestrado em Comunicação e Jornalismo "A Violência contra as Mulheres nos Media Lutas de Género no Discurso das Notícias (1975-2002)". De acordo com esta investigadora da Universidade de Coimbra, a violência "endémica contínua" inclui os maus tratos psicológicos e "fica completamente na obscuridade, apesar de causar milhares de vítimas".
Outra conclusão é a de que "a construção noticiosa da violência contra as mulheres assenta num repertório de incidentes isolados, baseados nas circunstâncias particulares dos agentes envolvidos, sendo, em geral, pobres os horizontes de sociabilidade contidos nesses discursos".
Desse repertório "são sistematicamente excluídos aspectos relacionados com a diferença de poder social entre sexos, bem como com a aparente incapacidade política para a erradicar, apesar da intervenção jurídico-institucional", analisa a autora.
Verifica-se ainda "uma certa tendência para desresponsabilizar o agressor" nas notícias analisadas. Na perspectiva de Rita Basílio de Simões, é importante a diversificação das fontes de informação. A eleição de formatos jornalísticos mais interpretativos e o recurso a vozes alternativas, nomeadamente de mulheres sobreviventes, são outras das medidas preconizadas pela autora.