Sara Santos Silva, in Jornal Público
O Livro Negro sobre a Pobreza no distrito do Porto, que foi ontem apresentado no auditório da Junta de Freguesia de Santo Ildefonso, conclui que, nos últimos três anos, a pobreza e a instabilidade social no distrito se agravaram e que aumentou o número de "novos pobres", vítimas do sobreendividamento.
A publicação, que se define nas primeiras linhas como "um livro de combate", revela que das quinhentas mil pessoas em situação de pobreza, quarenta mil sofrem de carência alimentar e que mais de cem instituições aguardam ajuda do Banco Alimentar contra a Fome. Na apresentação, João Teixeira Lopes, deputado do Bloco de Esquerda (BE), sublinhou que o livro foi uma forma de ter uma visão de conjunto da grave situação social do distrito, ouvindo as instituições e os pobres, "que muitas vezes são falados, mas poucas vezes são ouvidos". O Livro Negro não se fica pelo diagnóstico, apresentando também soluções e iniciativas já levadas a cabo pelo partido, sob a forma de projectos de resolução do grupo parlamentar, "que, na maioria, estão por responder".
Uma das reinvindicações do BE consiste num Plano Territorial de Acção para a Inclusão, com objectivos claros, calendarizados e mensuráveis, que incluam o aumento da distribuição de alimentos e de novas camas para os sem-abrigo, o aumento de vagas em instituições de solidariedade social, como berçários, centros de dia e lares de idosos, e a simplificação do acesso ao Rendimento Social de Inserção, "que hoje em dia chega aos seis meses, perdido numa espiral de burocracia", critica João Teixeira Lopes. Outra solução proposta pelo BE é o aumento dos salários reais, já que "um número muito elevado dos pobres da cidade trabalham".
Sérgio Aires, sociólogo convidado para participar na apresentação da publicação, considera que este diagnóstico não traz surpresas e que, ao contrário do desejado pelo BE, não vai causar qualquer tipo de indignação.