17.3.08

Lares rejeitam acolher idosos infectados com HIV

in Jornal de Notícias

Três lares só receberam os idosos sob coacção da Segurança Social


Há lares apoiados pelo Estado que se recusam a aceitar idosos seropositivos. Só no ano passado, a Segurança Social recebeu três queixas. As associações que trabalham no terreno garantem que a discriminação é generalizada e denunciam a existência de "guetos" para pessoas infectadas.

As três denúncias chegaram "devidamente documentadas" aos serviços do Instituto da Segurança Social (ISS) no ano passado, revelou à agência Lusa o presidente daquele organismo, Edmundo Martinho, acrescentando que "os processos ainda estão a decorrer". Segundo Edmundo Martinho, num dos casos terá havido "quebra do sigilo profissional" do médico que divulgou a situação clínica do idoso aos responsáveis do lar. Nas três instituições de solidariedade social, comparticipadas pelo Estado, os infectados só conseguiram vaga depois da intervenção dos serviços do ISS.

De acordo com o Instituto Ricardo Jorge, estão notificadas no país 2.411 pessoas seropositivas com mais de 55 anos. Nos últimos tempos, tem aumentado exponencialmente o número de novos casos de infecção na população mais velha. Se nos anos 80 raramente surgiam mais de dez novos casos de seropositivos por ano, na década de 90 já rondavam os cem e, actualmente, chegam a ultrapassar os 200.

A evolução das terapêuticas trouxe um aumento da esperança de vida dos seropositivos mas trouxe também um problema hoje existe uma camada da população envelhecida que está infectada sem que existam soluções sociais.

Muitas vezes, os problemas não desaparecem nem no momento de entrar para um lar. Dizer que não há vaga ou pedir mais dinheiro são algumas das formas usadas para barrar a entrada a quem está infectado. Os truques são conhecidos por quem lida diariamente com o problema.

As associações falam em discriminação "camuflada" para contornar a lei. "Todos os dias recebemos queixas de pessoas que dizem que os serviços não os aceitam", disse Margarida Martins, presidente da Abraço. Também na Liga Portuguesa Contra a Sida são constantes os relatos de doentes que não conseguem entrar num centro.