Alexandra Figueira, in Jornal de Notícias
Manuel António sai de Málaga e vem a Portugal ter com a família de duas em duas semanas
A mulher e os dois filhos ficam em Portugal e, de duas em duas semanas, Manuel António deixa a família e segue em direcção a Espanha. O ideal seria encontrar perto de casa as mesmas condições do que no país vizinho mas, como isso não é possível, habituou-se a cruzar a fronteira "por rotina".
Não é de agora que Manuel António trabalha longe. Primeiro, percorreu Portugal. "Andei por Lisboa e pelo Algarve, nas obras". Depois a sua empresa arranjou trabalho como sub-empreiteira de uma galega e rumou a Espanha. Há quatro anos que percorre a estrada que liga o Norte de Portugal a Málaga, quase no outro extremo da Península Ibérica.
"Aqui desta zona somos 35 a trabalhar no mesmo sítio e para o mesmo patrão". De 15 em 15 dias, metade vem a Portugal. E depois regressa porque, até ver, tudo corre bem. "Nós temos boas condições, pagam-nos bem".
Mas nem todos se podem gabar do mesmo, sobretudo os que têm o azar de encontrar pela frente gente desonesta. Manuel António diz nunca lhe ter acontecido, mas sabe histórias de pessoas que trabalharam para aquecer. "Conta-se que há empreiteiros brasileiros, por exemplo, que arranjam trabalho, recebem o dinheiro e depois fogem sem pagar ao pessoal".
Sem contrariedades deste género, Manuel António assume que é pelo dinheiro que se transformou nesta espécie de emigrante quinzenal. E apesar de não dizer quanto ganha, assegurou não haver grandes diferenças quando comparado com os espanhóis. "Não noto que ganhemos menos dinheiro do que eles", disse, mas sem comparar o número de horas que cada um trabalha.
Os quatro anos passados em Málaga, contudo, podem estar a acabar e não só porque a construção, do outro lado da fronteira, já está a cair. Manuel António olha para os dois filhos (um deles já na escola) quando diz querer voltar a Portugal de vez. "Vou ficar por Málaga mais um ano. Se entretanto houver aqui mais trabalho, quero voltar".