Lucília Tiago, in Jornal de Notícias
Em 2007 registou-se uma quebra de 1,02% no valor dos contratos
Os portugueses estão a comprar menos casas e a pedir empréstimos de menor valor quando precisam de recorrer ao crédito para a compra de habitação. Os dados anuais agora disponibilizados pela Direcção-Geral do Tesouro (DGT) mostram que o valor médio dos empréstimos baixou de 94,2 mil euros em 2006 para 93,7 mil euros no ano passado. A subida das taxas de juro, o aumento do desemprego e também as transferências dos créditos de um banco para outro são alguns dos factores que ajudam a explicar estas mudanças.
Ao contrário da tendência verificada em 2006 - em que se compraram menos casas mas mais caras -, no ano passado registou-se uma quebra homóloga tanto no número, como no montante e mesmo no valor médio dos empréstimos contratados. Ou seja, em 2007 foram feitos 148 235 contratos de crédito para habitação (menos 0,48%) pelo valor global de 13,89 mil milhões de euros (quebra de 1,02%). Esta evolução fez com que o valor médio de cada empréstimo fosse de 93 700 euros, contra 94 200 euros em 2006.
Impacto do "subprime"
A análise dos vários trimestres de 2007 indicia também que a crise nos mercados financeiros - que se tem reflectido nas taxas de juro interbancárias e em maiores limitações no acesso ao crédito - começa já a pesar na decisão das famílias. Foi no último trimestre do ano que se fez o maior número de contratos (39560) e também aquele em que o valor médio dos empréstimos foi mais reduzido (89,8 euros). É preciso recuar a 2005 para encontrar valores médios de empréstimos abaixo da "barreira" dos 90 mil euros.
Para o presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal, José Macedo, os números do quarto trimestre de 2007 deverão reflectir sobretudo uma maior dinamização nas transferências de empréstimos de um banco para outro e não uma descida do preço das casas, situação que, sublinhou ao JN, não se tem verificado. "Em 2007 foram vendidas menos casas do que em 2006 e mais caras", referiu.
Não sendo possível distinguir nos dados da DGT quais os contratos de empréstimos efectivamente novos e quantos resultam de transferências entre os bancos, o economista João Carvalho das Neves admite que uma parte dos valores seja influenciada por este movimento, mas lembra também que esta mudança de banco é parcialmente justificada pela subida das taxas de juro "Ao transferir o empréstimo, as pessoas procuram negociar condições mais favoráveis", salienta.
Na sua opinião, os números de 2007 terão também sido influenciados pelo facto de as pessoas estarem mais cautelosas e a procurar casas mais baratas --"em vez de um T4 optam por um T3". Ao mesmo tempo há ainda que considerar que, face à subida das taxas e às maiores restrições na concessão de crédito, algumas famílias optam por recorrer a poupanças quando compram casa, em vez de pedirem financiamentos a 100%, como foi comum no passado.
O que os portugueses devem aos bancos
93,6 mil milhões de euros
Em Dezembro, o saldo em dívida dos empréstimos para aquisição de habitação ascendia a 93,55 mil milhões de euros. Deste total apenas 16,78 mil milhões eram no regime bonificado.
430 mil
No final de 2007 estavam registados 430 mil empréstimos no regime bonificado (entre jovem e outro). Este regime foi extinto em 2002, só se mantendo para os empréstimos que já existiam.