Exploração financeira de idosos é "problema muito grave" no país

Ana Cristina Pereira, in Jornal Público

Apesar de ser "um problema muito grave", a exploração financeira dos idosos é subvalorizada. Esta é, pelo menos, a convicção da docente de Gerontologia Social Paula Guimarães, ontem manifestada numa conferência da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

Esta exploração não se pode dissociar da estrutura social portuguesa nem do direito sucessório. Subsiste "um grande pudor em intervir nas relações familiares". "Temos uma inércia violenta", resumiu a ex-representante da Rede Europeia de Prevenção da Violência contra as Pessoas Idosas.

Os alertas sobre a violência contra os idosos chegam de vários cantos. O procurador-geral da República, Pinto Monteiro, declarou-o um problema prioritário. E as polícias também se mobilizaram. No princípio do ano, o major Joaquim Crespo anunciou que a GNR iria alargar aos idosos o serviço de apoio a vítimas de violência doméstica.

Os dados sobre violência doméstica não estão desagregados por idade no relatório de Segurança Interna de 2008. Pode-se, ainda assim, citar um indicador: o ano passado, 647 idosos recorreram à Associação Portuguesa de Apoio à Vítima: 568 eram vítimas de familiares. A violência física vitima um a três por cento da população idosa, segundo estudos europeus e norte-americanos ontem citados por Karl Pillemer, professor da Universidade de Cornell. Mas os maus tratos podem assumir outras formas, como a violência psicológica (ameaçar que vão ser postos num lar, por exemplo), a negligência, o abuso sexual.

"O que as pesquisas mostram é que muitos adultos estão dependentes dos pais e exploram-nos", explicou. "Podem ficar com os cheques das pensões, mas também pressioná-los para mudar o testamento ou transferir os bens". Só que "grande parte dos abusos acontecem entre marido e mulher". Nalguns casos, "há uma continuidade de padrões de violência por parte de um marido que sempre foi agressor", noutros a violência surge associada à demência ou à necessidade de cuidados muito exigentes. com Lusa

Violência registada contra idosos tem vindo a aumentar. Procurador-geral já a declarou uma prioridade