20.4.09

Mais de metade das falências são no Porto, Braga e Aveiro

Alexandra Figueira, in Jornal de Notícias

Comércio, indústria e construção civil são os sectores em que mais firmas fecharam portas


São do Porto, sobretudo do comércio e indústria, criadas há menos de dez anos, que empregam até cinco trabalhadores e vendem menos do que 500 mil euros/ano. É este o retrato das empresas que mais abriram insolvência no primeiro trimestre.

Portugal não é uniforme, no que toca à crise. Das 957 empresas falidas entre Janeiro e Março deste ano, mais de metade (529) está na faixa litoral Norte do país, nos distritos do Porto, Braga e Aveiro. O Porto é, de longe, o local onde mais empresas fecharam portas, quase um terço do total. A completar os quatro distritos que se distinguem entre os "mais falidos" está Lisboa.

Eram sobretudo empresas muito pequenas, sociedades por quotas cujos sócios empregavam não mais do que cinco trabalhadores (neste período, só fecharam 51 empresas com mais do que meia centena de pessoas). Este tipo de empresas forma a estrutura base da economia portuguesa e está a receber o maior impacto da recessão instalada no mundo.

Os dados da consultora Dun & Bradstreet não especificam as actividades mais afectadas, mas deixam claro que o comércio (somando o grossista ao de retalho) e a indústria são as mais expostas às falências - ambas respondem por mais de metade das insolvências declaradas no início do ano.

Logo a seguir vem a construção civil, que desde 2002 tem visto muito negócio simplesmente a desaparecer, em grande medida porque já não se vendem (nem constroem) tantas casas quanto durante os anos 90, tal como tem alertado insistentemente o presidente da federação dos construtores, Reis Campos. E que também tem reflexos nos encerramentos de empresas do ramo imobiliário: 17 este ano, face a apenas duas no ano passado.

Empresas familiares atingidas

As mais afectadas pela crise são, assim, as empresas mais pequenas, muitas vezes onde trabalha toda uma família e que sobrevivem vendendo para poucos clientes, acrescentou António Marques, presidente da Associação Industrial do Minho (AIMinho). Quando um desses clientes - como, por exemplo, a Qimonda ou a Autoeuropa, que reduzem ou fecham a produção - corta nas encomendas, as empresas mais pequenas ficam sem suporte e, muitas vezes, acabam por não resistir e fechar as portas, disse.

Além disso, em tempos de crise como o actual as empresas maiores cortam nos serviços prestados em "out-sourcing", o que também ajuda a acabar com o negócio das empresas mais pequenas, acrescentou António Marques.

Mas esta é, também, a razão pela qual, diz, o desemprego não está a disparar: "Podem ser muitas empresas, mas empregam poucas pessoas". Por isso, em termos de trabalho, causa mais prejuízo o fecho de uma grande do que de muitas pequenas, explicou.

Apesar de tudo, a situação das empresas e dos trabalhadores "vai ficar pior antes de ficar melhor". A avaliar pelas carteiras de encomendas no têxtil, por exemplo, pelo menos até Setembro António Marques espera encontrar números mais negros do que os agora revelados.