Alexandra Figueira, in Jornal de Notícias
Meio milhão sem trabalho ou em programas de emprego, em Março
A matemática ilustra o que se ouve todos os dias: em Março, a cada três minutos, um novo desempregado somou-se à lista dos que não têm trabalho. No final do mês eram já 484 mil, o maior aumento homólogo desde o Verão de 2003.
Quase duas semanas depois da data em que costuma revelar os dados sobre o mercado laboral, o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) disse ontem que, no final de Março, Portugal tinha mais 93 mil desempregados do que no mesmo mês do ano passado e mais quase 15 mil do que em Fevereiro, ao ritmo de quase 500 por cada dia, 21 à hora ou um de três em três minutos. Só este ano, o número de desempregados inscritos subiu em 68 mil pessoas.
Contas feitas, o trimestre acabou com 484 mil desempregados oficialmente registados. A estes, somam-se pessoas envolvidas em programas especiais de emprego, por exemplo, em instituições culturais, onde o desempregado é temporariamente colocado, mediante o pagamento de uma pequena verba, mais o subsídio de desemprego. Em todo o caso, são pessoas ocupadas em programas especiais, à falta de melhor situação no mercado laboral.
Face ao que acontecia no ano passado, há mais homens e mais mulheres desempregados; jovens e adultos, tanto à procura do primeiro emprego quanto a querer reentrar no mercado de trabalho; desde pessoas que mal sabem ler e escrever até a quem tem um curso superior - a exclusão do mercado de trabalho é transversal a toda a sociedade.
Tem sido, também, generalizada pelo país, mas, em Março, o Algarve continuou a distinguiu-se pelas piores razões: nos últimos meses o desemprego não tem aumentado muito, mas a situação é de descalabro quando comparada com o que acontecia há um ano: o número de pessoas sem trabalho disparou 55%, para quase 21 mil pessoas.
A Norte, o cenário tem poucas mudanças face aos últimos anos. Alberga 43% de todos os desempregados do país e, no espaço de um mês, "ganhou" seis mil novas pessoas sem trabalho. Ou seja, sozinho é responsável por 40% do aumento do desemprego no país.
Os números do IEFP não surpreenderam o ministro do Trabalho. São o "sinal" da "situação económica que vivemos, uma situação de recessão mundial", disse, em Amarante, onde visitou um pólo do CENFIN, o Centro de Formação da Indústria Metalúrgica e Metalomecânica. Vieira da Silva, citado pela Lusa, insistiu na necessidade de manter o emprego existente e apoiar as empresas, para que "não sejam obrigadas a despedir".
Essas mesmas medidas foram apelidadas de "insuficientes" para contrariar o "preocupante agravamento do desemprego", disse à Lusa Carvalho da Silva, secretário-geral da CGTP, para quem a única solução é a "mobilização geral do país para a defesa do emprego".
João Proença, da UGT, secunda a ideia: "Estes dados reforçam a nossa preocupação pois o aumento do desemprego é superior ao esperado e o ritmo de crescimento não se tem atenuado e isso tem a ver com as medidas governamentais, que não estão ainda a surtir efeito", disse, exigindo do Governo mais informação. "Ninguém sabe qual o impacto real das medidas que o Governo tem em vigor", afirmou também à Lusa.