3.6.09

Oito por cento da população sem apoio

Carina Fonseca, in Jornal de Notícias

Estima-se que 6% a 8% da população portuguesa tem uma doença mental que carece de cuidados especializados e não está a ser devidamente acompanhada. Um estudo revelará, em breve, o retrato completo do país, nesta área da sáude.

"Muito provavelmente, teremos entre 6% e 8% da população a precisar de cuidados especializados. Há muita gente que anda perdida", referiu o coordenador nacional para a Saúde Mental, José Caldas de Almeida, ontem, em Coimbra. O responsável participava num seminário intitulado "A Reestruturação e Desenvolvimento dos Serviços de Saúde Mental em Portugal", no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.

Caldas de Almeida sublinhou o facto de apenas 1,7% da população ter acesso aos serviços públicos de saúde mental especializados. "São dados baseados em estudos feitos noutros países. Não deverá haver grandes surpresas aqui", explicou, mais tarde, ao JN. E acrescentou: "É de prever que, em Portugal, 15% a 20% da população tenha um problema de saúde mental a cada ano".

Estas e outras estimativas darão lugar a certezas com base científica, possivelmente, já no ano que vem, com a divulgação de um estudo - o primeiro - que faz o diagnóstico dos problemas de saúde mental em Portugal. O estudo insere-se numa iniciativa internacional. Está a ser realizado pela Universidade Nova de Lisboa, em colaboração com a Universidade Católica. Em ligação, ainda, com a Universidade de Harvard (Estados Unidos da América) e com a Organização Mundial de Saúde (OMS).

Os hospitais psiquiátricos são um modelo "que acabou", referiu José Caldas de Almeida, diante de uma pequena plateia, com investigadores interessados na questão da desinstitucionalização dos doentes. Uma das justificações: "São estruturas separadas, o que estimula o estigma".

De acordo com o responsável, para que a desinstitucionalização aconteça, é essencial que existam Serviços Locais de Saúde Mental, onde os doentes possam ser seguidos depois de terem alta. "Estamos a tentar criá-los onde ainda não existem e a melhorá-los, onde existem", explicou.

Ao JN, no final da sessão, Caldas de Almeida preferiu não colocar a tónica no encerramento de hospitais psiquiátricos, como recomenda a OMS: "O Plano Nacional de Saúde Mental visa criar serviços, na comunidade, que vão fazer com que os hospitais deixem de ser necessários". Actualmente, calcula que haja cerca de 4000 pessoas a viver em instituições psiquiátricas.