8.9.09

Origem da crise económica acentua divergências

Helena Teixeira da Silva, in Jornal de Notícias

Debate destaca importância da sociedade civil na resolução dos problemas


Vieira da Silva recusou ontem, no debate sobre economia e emprego promovido pelo JN, que a crise internacional não tenha prejudicado os actuais indicadores do país. A Oposição contesta, acha que é falsear o problema.

Aparentemente, a chave da mesa redonda - a primeira de cinco, na antecâmara das eleições legislativas - que reuniu os cinco maiores partidos nacionais na Fundação Cupertino de Miranda, no Porto, surgiu da plateia: sociedade civil. "A análise sobre os dados conhecidos é estéril. Não estará na altura de os partidos reconhecerem que não sabem o que fazer para resolver os problemas do país e assumir que ao Estado compete uma função de pára-quedas por um lado, e desburocratizadora por outro, para não atrapalhar o trabalho da sociedade civil?"

A pergunta, no fim de quase duas horas de debate, coube a Tiago Azevedo Fernandes, engenheiro e autor do blogue "A Baixa do Porto". E a partir daí, todos os tribunos, sobretudo os de direita, encontraram na expressão "sociedade civil" uma possibilidade de solução para o futuro do país. "O Estado deve regular a economia e ser cada vez menos o actor principal do filme", corroborou Diogo Feio, eurodeputado pelo CDS-PP. "Tem que ser a sociedade civil a tirar a economia do marasmo. Ao Estado cabe descomplicar", concordou o deputado do PSD Miguel Frasquilho.

Na esquerda à esquerda do PS houve maior hesitação. Honório Novo, da CDU, que até defendeu o "reforço do Estado para facultar o acesso ao crédito", insistiu num diagnóstico do país que diz não ser "apenas real, mas trágico"; e José Gusmão, do Bloco de Esquerda, sublinhou que "entre PS e PSD não há diferenças" e que ambos os discursos - concentrados no défice - são uma "decepção". Vieira da Silva, ministro do Trabalho, foi o único a recusar terminantemente o afastamento do Estado na resolução das questões cruciais do país. "Esquecer o Estado é um erro grave que já pagámos caro. Não defendo que tome conta das pessoas do berço à cova, mas tem um papel que não pode ser substituído, sobretudo na qualificação dos recursos humanos."

Num aspecto estiveram todos de acordo. Usando uma expressão utilizada por Diogo Feio (que quis vincar a sua demarcação do PCP e do BE), estiveram "todos contra um". Todos contra Vieira da Silva, que ali representou o governo socialista de José Sócrates. E todos sem excepção competiram para debitar os indicadores mais recentes sobre o país: a taxa histórica de desemprego, a dívida pública, a dívida externa (cada português deve, em média, ao estrangeiro 15,200 milhões de euros contra os 8,5 de em 2004, notou Frasquilho), o crescimento negativo da economia, a falta de competitividade. Tudo devido "às políticas erradas deste governo".

"O crescimento potencial do nosso país é o mais baixo da União Europeia (UE), não chega a 1%", referiu ainda o deputado social-democrata, avançando ainda as previsões da OCDE, segundo as quais, até 2017, Portugal será o país da UE com crescimento mais baixo. Da direita à esquerda, todos culparam o actual modelo económico. E todos recusaram as explicações de Vieira da Silva, centradas na crise internacional, para justificar o resultado final do desempenho deste Executivo. "Esconder o impacto da crise internacional no nosso país é mistificar o problema. A taxa de emprego nunca cresceu tanto como com este governo. Depois veio a crise - longa, profunda, dura - e as prioridades foram reorientadas", argumentou. Explicações rejeitadas.

"O governo negou a crise quando ela já aí estava", acusou Honório Novo". "A crise é estrutural e não apenas conjuntural", insistiu Frasquilho. "E afecta as pessoas de forma assimétrica", acrescentou Gusmão. Como notou o público, houve muita análise do diagnóstico, mas poucas soluções.

Educação - Quinta das Lágrimas, em Coimbra

Manuela Melo (PS), Pedro Duarte (PSD), João Oliveira (CDU), Pedro Mota Soares (CDS-PP) e Ana Drago (BE) reunem-se hoje para debater a Educação. Os representantes dos partidos parlamentares fazem o diagnóstico e apontam as soluções.