por Ana Bela Ferreira, in Diário de Notícias
Concurso da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género vai ser alargado a todos os graus de ensino e implica a abordagem dos temas de violência para evitar o 'bullying' .
As escolas do ensino básico e secundário estão a apostar na prevenção da violência doméstica e do bullying (violência entre alunos) como tema das suas aulas. O concurso "A Nossa Escola pela Não Violência", da responsabilidade da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG), foi o primeiro projecto a nível nacional a abordar estas questões e já chegou a mais de mil alunos do 3.º ciclo e do secundário. Este ano "vai ser generalizado a todos os graus de ensino", adianta a secretária de Estado da Igualdade, Elza Pais.
A CIG deu formação a professores que integraram, pela primeira vez, ao longo do ano lectivo 2008/ /2009, a temática da violência nas suas aulas. Além da prevenção, esta vertente serve de preparação para o trabalho que os alunos vão levar a concurso. Este ano, segundo explica Elza Pais, os professores vão incluir o combate à violência no namoro e o desenvolvimento de relações saudáveis na área de cidadania.
A par desta iniciativa nacional existem projectos locais, como o Bem Me Quero, em Setúbal, onde vários profissionais exteriores à escola analisam fenómenos de violência com os alunos na aula de formação cívica, durante todo o ano lectivo.
O trabalho de prevenção da violência junto dos alunos é um dos objectivos do III Plano Nacional contra a Violência Doméstica, estabelecido para três anos e que termina em Dezembro. A sua concretização está a ser feita também através de alguns projectos-piloto, explica o vice-presidente da CIG, Manuel Albano. Algumas iniciativas estão a ser executadas por associações como a APAV (Associação de Apoio à Vítima), a UMAR (União das Mulheres Alternativa e Resposta) e a SEIES (Sociedade de Estudos e Intervenção em Engenharia Social).
A hipótese de estas intervenções virem a ser alargadas a nível nacional vai depender da avaliação que for feita no final de cada projecto. Quem está no terreno não tem dúvidas do seu sucesso e da sua importância.
Em Setúbal, a cooperativa SEIES trabalha há dois anos com alunos do 7.º, 8.º e 9.º anos da Escola D. João II. "Trabalhamos na disciplina de Intervenção Cívica, que entra na avaliação dos alunos. É um trabalho continuado de formação participativa", explica a coordenadora do projecto Bem Me Quero, Joana Peres.
A equipa constituída por vários profissionais vai às aulas de cada turma de 15 em 15 dias. Aqui, os jovens "são levados a reflectir sobre várias situações de violência e a falar das suas posições", acrescenta a responsável. Este método permite aos alunos "reconstruir as suas próprias vivências e mu- dar mentalidades", defende. As aulas já permitiram a muitas crianças e jovens denunciar os casos de violência doméstica que os próprios são vítimas ou que assistem.
A par da violência doméstica, são também trabalhados os contextos de bullying. "São realidades que estão relacionadas, porque muitas vezes estas são crianças que estão sujeitas a violência em casa, na escola podem tornar-se mais facilmente vítimas ou agressores, dependendo do modelo que recolhem em casa", descreve Joana Peres.
Na Maia e em Vila Nova de Gaia, as iniciativas coordenadas pela APAV estão este ano lectivo a funcionar em duas escolas, nas turmas do 9º ano, abrangendo cerca de 300 alunos. O projecto parte de um modelo já aplicado no Canadá com sucesso. "A ideia-chave é a de que tal como aprendem a ler e a escrever, os jovens também podem aprender a relacionar-se, treinando competências e gerindo conflitos", descreve a responsável do projecto Isabel Lima.