Tiago Rodrigues Alves, in Jornal de Notícias
Pais de família, jovens e empregados estão a engrossar as filas de famintos
Os pedidos de ajuda não páram de aumentar e as principais instituições de solidariedade nacional não têm mãos a medir. Em cenário de crise, tal não é supreendente. O que espanta é o perfil de quem pede auxílio: são pais de família e jovens com emprego.
O Banco Alimentar Contra a Fome já presta apoio a mais 40 mil pessoas e 750 instituições do que no ano passado. Ao todo já são cerca de 300 mil aqueles que recebem auxílio alimentar daquela instituição. As Misericórdias Portuguesas viram os utilizadores das suas cantinas aumentar entre 200 a 250%. E não há dia que passe sem que recebam pelo menos um ou dois pedidos de ajuda de pessoas empregadas que procuram cabazes alimentares. "Efectivamente, nos últimos tempos temos tido muitos mais pedidos de ajuda alimentar", confirma, por seu lado, Eugénio Fonseca, presidente da CARITAS.
Face à crise económica que tem vindo a afectar Portugal, o aumento de pedidos era já expectável. Todavia, aquelas instituições têm sido surpreendidas pelo perfil de quem pede ajuda. Já não é apenas o idoso, o desempregado ou o indigente.
"As pessoas que nos pedem ajuda são cada vez mais pais de família, são cada vez mais jovens, são cada vez mais pessoas empregadas", esclarece Manuel Lemos, presidente da União da Misericórdias Portuguesas. "O emprego já não é garantia suficiente para retirar uma pessoa duma situação de probreza", lamenta.
Se para os empregados é difícil, então para os desempregados é muito mais, principalmente agora que entraram em vigor as reduções de apoios sociais. "Temos muita procura de pessoas que perderam o direito ao subsídio de desemprego e que, com as novas medidas, deixaram até de ter o suporte do RSI", afirma Eugénio Fonseca.
Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar, aponta as zonas de Braga, Porto, Aveiro e Setúbal como as que, "incontestavelmente", sentem mais dificuldades. Já Manuel Lemos destaca todas as zonas litorais urbanas e suburbanas "onde há menos rectaguarda familiar". "No campo, sempre há alguma família próxima ou uma horta e alguns animais", explica.
Para o próximo ano não se antevêm melhorias, bem pelo contrário. Isabel Jonet não tem "a mínima dúvida de que a situação vai piorar com a diminuição dos subsídios dados pelo Governo". Opinião partilhada pelos outros dois responsáveis que não afastam o cenário explosivo de, à medida que os pedidos de ajuda aumentam, as doações diminuam. Mas, depositam esperança na caridade da sociedade.
"A situação é muito complexa e não podemos cruzar os braços. Apelo a todos os que mantêm o seu emprego e um salário a que partilhem o que têm com os outros", pede Eugénio Fonseca. "Normalmente, as pessoas são muito generosas e em altura de crise são ainda mais", garante Isabel Jonet. "É nestas alturas que a sociedade se valoriza", refere Manuel Lemos.