Por Ana Rita Faria, in Jornal Público
Para o FMI, alguns analistas de mercado encaram como “quase certo” que Portugal entre em incumprimento, mas a instituição diz que risco de o país não pagar a sua dívida está a ser sobrestimado.
O FMI, liderado por Strauss-Kahn, diz que necessidades de financiamento de Portugal em 2011equivalem 20,7% do PIB
No relatório Fiscal Monitor, ontem divulgado, o Fundo Monetário Internacional (FMI) destaca que, “apesar de as perspectivas orçamentais terem melhorado a um ritmo mais rápido do que o esperado na Grécia e em Portugal, alguns analistas do mercado vêem como quase certo a ocorrência de um evento de crédito”. Por este evento subentende-se o incumprimento, total ou parcial, do pagamento das dívidas do país, tal como aconteceu com a Grécia, que teve de recorrer à ajuda do fundo de estabilização do euro e ao FMI.
Contudo, segundo o FMI, os mercados estão a sobrestimar o risco de default em várias economias avançadas, como é o caso de Portugal. “Apesar de a necessidade de ajustamento orçamental que alguns países avançados enfrentam seja realmente grande, não é algo sem precedentes”, destaca a instituição, salientando que “no passado, vários países enfrentaram tensões sérias nos mercados e a escalada dos juros da dívida mas conseguiram estabilizar a situação”. Por isso, “os actuais sinais dados pelos mercados não devem ser interpretados como conduzindo a um resultado negativo inevitável”, conclui.
O FMI alerta ainda para o facto de a necessidade de financiamento de algumas economias, já elevada, ir aumentar ainda mais no próximo ano. Devido ao nível de dívida que vence em 2011, as economias avançadas irão aumentar a sua necessidade de financiamento para 27 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), em média. As maiores subidas são no Japão, na Grécia, mas também em Portugal e nos EUA, onde a dívida que o Estado terá de pagar ultrapassa largamente a redução do défice prevista.
Em Portugal, a dívida que vence em 2011 equivale a 15,5 por cento do PIB, enquanto este ano era de 11,6 por cento. Será, em grande parte, para cumprir com os seus compromissos financeiros, mas também para cobrir o défice do próximo ano, que o Estado terá de se endividar num valor equivalente a 20,7 por cento do PIB, mais 1,8 pontos percentuais do que este ano.
Estas contas do FMI têm por base uma previsão de défice de 5,2 por cento em 2011, já que as últimas projecções oficiais do fundo ainda não contabilizam o impacto das medidas de austeridade do Orçamento do Estado (OE) do próximo ano. As necessidades de financiamento estimadas pelo FMI podem, por isso, ser menores. Mas esta perspectiva também não é certa.
É que, na proposta do OE de 2011 aprovada no Parlamento, o Governo reviu o limite máximo de endividamento, estipulando que este pode aumentar em 11.573 milhões de euros, o que equivale a 6,8 por cento do PIB.