Félix Ribeiro, in "Público"
Antes das partidas, chegaram 339 pessoas à Grécia As primeiras deportações automáticas de migrantes e requerentes de asilo chegados às ilhas gregas depois de 20 de Março começaram ontem, tal como ? cou agendado no momento em que a União Europeia selou com a Turquia um polémico acordo para tentar conter o fluxo migratório no Mediterrâneo. Vigiados por dezenas de agentes da polícia europeia de fronteiras, 202 migrantes retirados de campos de acolhimento nas ilhas de Lesbos e Chios embarcaram ainda durante a madrugada em três ferries que os levaram sem incidentes para a pequena cidade turca de Dikili e para o mesmo país que deixaram nas últimas duas semanas em embarcações periclitantes.
O mecanismo de deportação automática é crucial para que a nova estratégia europeia para os refugiados funcione. Os 28 querem manter migrantes e requerentes de asilo do outro lado do Mediterrâneo, na Turquia, onde já vivem cerca de 2,5 milhões de refugiados sírios. A União Europeia encerrou por isso a rota do mar Egeu, por onde se dá a esmagadora maioria das entradas “irregulares” no continente. Não sendo possível travar completamente as novas chegadas — os Estados-membros prometem “destruir o modelo de negócio dos passadores” no futuro —, encerrar a rota do Egeu faz-se mandando de volta para a Turquia todas as pessoas que viajem para a Grécia sem autorização.
As operações de ontem foram um primeiro teste à capacidade de a Grécia e a Turquia processarem e expulsarem migrantes e requerentes de asilo que arriscaram a vida para chegar à Europa, e fazê-lo pelo menos ao mesmo ritmo que outras pessoas tentam a mesma viagem. A tarefa levanta sérias dúvidas sobre a viabilidade do acordo, e a própria data para o começo das deportações vinha sendo encarada como demasiado ambiciosa. As primeiras viagens deram-se na data marcada e sem incidentes — uma vitória para a chanceler alemã, Angela Merkel, que sofre a pressão da entrada de mais de um milhão de refugiados no seu país só em 2015. Apesar disso, as nas 24 horas que antecederam as viagens chegaram 339 pessoas por mar à Grécia. Em todo o caso, numa entrevista telefónica com Angela Merkel, o primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, sublinhou “um dia importante” em que “se pôs em marcha uma parte central” do acordo.
“Um por um” Numa demonstração de que as operações de ontem são sobretudo simbólicas, aterraram na Alemanha dois aviões com 16 refugiados sírios cada e uma outra aeronave com 11 sírios na Finlândia. As viagens são o resultado da chamada “regra do um por um”, em que a União Europeia se compromete a receber um refugiado sírio vindo da Turquia por cada sírio reenviado desde a Grécia — é dada prioridade a famílias sírias na Turquia em condições particularmente vulneráveis. O acordo deixa de fora iraquianos e eritreus, a quem países como a Alemanha oferecem asilo em quase todos os casos, e todas as outras nacionalidades que, juntas, representam metade de todas as pessoas que fazem a travessia marítima para a Europa. Desde o início deste ano, já 171 mil pessoas o ? zeram.
Mais de 700 morreram.
A desproporcional chegada de 43 sírios à Alemanha e Finlândia — quando comparada com as duas pessoas da mesma nacionalidade que viajaram para Dikili — sugere um esforço da parte do Governo turco em demonstrar que o acordo que selou com a UE será e? caz e aplacará as críticas à maneira como trata os refugiados no seu território — Ancara foi recentemente acusada pela Amnistia Internacional de ter expulsado centenas de refugiados para a Síria só nos últimos meses.
Acordo para reduzir número de refugiados entrou oficialmente em marcha, mas nenhuma das primeiras pessoas deportadas pediu asilo na Europa e a maioria era do Paquistão e Bangladesh Acordo Félix Ribeiro na Grécia desde a data-limite de 20 de Março e quase todas serão deportadas se as autoridades fizerem valer o compromisso com Ancara.
Estão todos formalmente detidos, em centros de acolhimento que ameaçam ? car sobrelotados caso o ritmo das deportações não acelere.
As autoridades acabaram por expulsar apenas um terço das 600 pessoas que tinham planeado deportar ontem. A imprensa turca sugere que este número pode aumentar para a casa dos 700 até amanhã, mas só Foi “um dia importante” em que “se pôs em marcha uma parte central” do acordo UE-Turquia travessias de ontem continuam sem responder às principais inquietações sobre a estratégia europeia para os refugiados.
Os ferries transportaram sobretudo migrantes do Paquistão e Bangladesh, que em condições normais já seriam deportados da Grécia. Aliás: os dois únicos sírios que regressaram à Turquia tinham pedido para o fazer e nenhuma das 202 pessoas “expulsas” pediu asilo na Grécia durante a sua estada.
O caso será diferente para as cerca de 2000 pessoas que já pediram asilo e que chegaram ao país depois de 20 de Março, o que, em teoria, os forçará a ser deportados caso se prove que partiram da Turquia — a única possibilidade de um sírio ou iraquiano evitar a extradição é ter viajado para a Grécia de um país que a União Europeia não considere seguro.
Entraram cerca de 6000 pessoas
Acordo para reduzir número de refugiados entrou ofi cialmente em marcha p22 Deportação de imigrantes não trava refugiados