Sérgio Aníbal, in Jornal Público
Apesar da recuperação ligeira da economia portuguesa, os salários voltaram a desacelerar
Os salários médios declarados pelos portugueses em 2006 registaram um abrandamento face ao ano imediatamente anterior, não acompanhando os sintomas de recuperação que foram dados pela economia.
De acordo com os dados publicados no boletim estatístico do Banco de Portugal, em 2005 - período durante o qual a taxa de crescimento do PIB foi de apenas 0,5 por cento -, a variação homóloga das remunerações médias registadas na Segurança Social tinha sido de 4 por cento. Em 2006, ficou agora a saber-se, este valor desceu para 3,5 por cento.
Este resultado parece confirmar a ideia de que, apesar de a economia ter acelerado, a contenção salarial acentuou-se e os salários abrandaram. O aumento das remunerações médias declaradas em 3,5 por cento fica acima do valor da inflação. No entanto, é preciso levar em linha de conta que este indicador é também influenciado por mudanças de estrutura do emprego em Portugal.
Por exemplo, se a maior parte das saídas do mercado de trabalho se derem em sectores com salários baixos, como os têxteis, e a criação de emprego suceder em sectores em que os rendimentos são mais elevados, verifica-se uma tendência para que, em média, os salários registados no total da economia fiquem mais elevados.
Outro indicador que permite avaliar a evolução dos salários em Portugal é o das negociações realizadas ao nível da contratação colectiva no sector privado. Os trabalhadores abrangidos são bastante menos - um pouco mais do 1,3 milhões em 2006, mas, neste caso, é possível verificar que as actualizações salariais estagnaram face ao ano anterior, com uma variação de 2,7 por cento. Os maiores aumentos registaram-se nos serviços, com um valor de 3 por cento e os menores na construção com 2 por cento. Os trabalhadores da Administração Pública, recorde-se, tiveram em 2006 um aumento salarial de tabela de apenas 1,5 por cento.
Durante a semana passada, o Eurostat tinha assinalado que os custos suportados pelas empresas por hora trabalhada em Portugal durante o ano de 2006 - que incluem salários, contribuições para a segurança social e suplementos - tinham registado um abrandamento face a 2005, algo que apenas aconteceu em mais dois países da zona euro.
Especificamente, no sector da indústria, o crescimento deste indicador foi, em Portugal, o mais baixo entre os 13 países que constituem a zona euro, o que demonstra o clima de contenção salarial que se vive em vários sectores de actividade. O aumento do desemprego e a ameaça de deslocalização de várias empresas faz com que as reivindicações salariais sejam mais moderadas e o poder negocial dos responsáveis das empresas saia reforçado.
Durante os anos que antecederam a entrada em crise da economia, os números mostram que os aumentos salariais em Portugal foram relativamente mais altos do que no resto da Europa, nomeadamente quando descontado o efeito da produtividade.