Sara Dias Oliveira, in Jornal Público
Livros de banda desenhada ajudam a dissipar dúvidas de crianças dos 1.º e 2.º ciclos. Ideia partiuda PSP de São João da Madeira
"Não são livros de mesa-de-cabeceira", avisa o autor, explicando que são para serem folheados e assimilados por crianças dos 1.º e 2.º ciclos de escolas que têm o programa Escola Segura ao pé da porta. São para se emprestarem aos irmãos, primos, amigos, colegas. Para serem explorados por professores e pais.
Um chama-se Segurança das Crianças, para o 1.º ciclo; o outro Prevenir o Futuro, para o 2.º ciclo. A toxicodependência, os comportamentos ambientais, a prevenção de sinistros e incêndios, os valores sociais são temas comuns. A sexualidade, que deu algum trabalho extra aos desenhadores, foi tratada apenas no livro para o 2.º ciclo. Abordar estes assuntos junto dos mais novos de maneira a prender a atenção. A ideia dos livros de banda desenhada partiu do comandante da esquadra da PSP de São João da Madeira. Os comentários, sugestões, dúvidas que chegavam aos ouvidos do subcomissário Carlos Duarte, através dos colegas do programa Escola Segura e da experiência de um policiamento de proximidade, foram o ponto de partida.
No entanto, a tarefa de desenhar tinha de ser depositada em outras mãos. "Tentei saber quem tinha arte e engenho para esta obra", lembra. Depois de alguns contactos, acabou por chegar a dois agentes que aceitaram desenhar os bonecos que retratam situações do quotidiano.
Helena Graça e Paulo Santos, da PSP de Aveiro, puseram mãos à obra. E acharam piada ao novo trabalho. "Achei a ideia interessante. Era uma situação nova, mesmo a nível artístico", confessa Paulo Santos, que aproveitou para dar uso ao curso de Desenho que tirou na fábrica Vista Alegre. "Foi um desafio. Os desenhos foram feitos à moda antiga, à mão", acrescenta a autodidacta Helena Graça. Os desenhadores fizeram os contornos, a parte gráfica coloriu. 40 mil exemplaresO tema da sexualidade, o último a surgir, deu mais que pensar. "Tentámos abordar o assunto sem cair no ridículo e na infantilidade", explica a mulher-polícia. "E não ficou pesado", completa Paulo Santos. Quatro meses de trabalho, 320 desenhos.
Os livros já chegaram a todas as esquadras da PSP do distrito de Aveiro que desenvolvem o programa Escola Segura e preparam-se para bater à porta de todo o dispositivo nacional da PSP que tenha o programa. Ao todo, são 40 mil exemplares, mas há também material complementar que ajuda a consolidar as mensagens do livro. Um CD com uma apresentação em powerpoint é apresentado nas salas de aula por um polícia da Escola Segura, para que a banda desenhada não caia de pára-quedas nas mãos dos mais pequenos. Além disso, há cartazes com conselhos úteis a serem afixados nos estabelecimentos de ensino. "Os livros são contributos materiais para perpetuar a intervenção da polícia junto das crianças e jovens", explica Carlos Duarte. Combater o estigma do polícia mau esteve também presente. "O polícia existe como um amigo e confidente, pronto a ajudar em qualquer circunstância."
E o público-alvo também não foi escolhido por acaso. A banda desenhada é direccionada "com mais insistência para os 1.º e 2.º ciclos porque se trata de uma altura em que os conteúdos são absorvidos mais facilmente". "É um meio de nos intrometermos, de uma forma positiva, na comunidade escolar", remata o responsável.À primeira tentativa, Carlos Duarte conseguiu o apoio de uma empresa para patrocinar os livros. Não sabe quanto custou, mas admite "que não deve ter sido barato".
Olhos Abertos! para idosos
O comandante da PSP de Aveiro, Francisco Bagina, acarinhou a ideia desde a primeira hora. Por muitas razões. "É um privilégio ter profissionais dedicados e que fazem mais do que a prática policial estipula", começa. Mas também para cumprir objectivos: "Temos uma estratégia de ajudar grupos de risco e os livros enquadram-se nessa iniciativa." Para dar uso a dados recolhidos: "Temos um manancial de informação que surge de diversas situações."E há ainda o trabalho em equipa: "A polícia tem conhecimentos, mas não tem autoridade técnica em várias matérias." Daí o contributo das parcerias que "possam complementar as insuficiências" da PSP. Os dois livros contaram, de facto, com a colaboração de oito entidades parceiras que deram a sua ajuda, nomeadamente o centro de saúde e os Bombeiros Voluntários de São João da Madeira e agrupamentos escolares da região. Carlos Duarte quer que fique bem claro: "A polícia não está a assumir ou a substituir instituições, mas sim a criar sinergias."
E o comandante da PSP de São João da Madeira tem mais um projecto entre mãos. Em 2005, com a colaboração de um artista plástico e uma psicóloga locais, conseguiu editar cinco mil livros dedicados aos mais velhos. Olhos Abertos! acabou por chegar a todas as esquadras da PSP do país que desenvolvessem o programa Idosos em Segurança."É um livro com três vertentes: securitária, de prevenção; psicológica, explicando que o envelhecimento é uma fase sequencial de estar vivo; e artística, com momentos de exploração do pensamento." Tem conselhos, textos para pensar e desenhos com mensagens para reflectir. Neste momento, Carlos Duarte pretende que a obra destinada aos idosos seja traduzida em voz.
Avançar com uma edição em braille faz também parte dos seus objectivos, se encontrar apoios. A banda desenhada permite que a mensagem chegue mais facilmente aos alunos dos 1.º e 2.º ciclos.
40.000 exemplares impressos, com recurso ao patrocínio de uma empresa
320 desenhos executados pelos agentes Helena Graça e Paulo Santos, da PSP de Aveiro
120 dias, correspondentes a quatro meses, para a elaboração do trabalho de desenho
8 entidades parceiras estiveram envolvidas na elaboração dos conteúdos
2 livros editados: Segurança das Crianças, para o 1.º ciclo, e Prevenir o Futuro, para o 2.º ciclo