Pedro Santos Costa, in Jornal Público
Estudo divulgado na véspera da chegada do Presidente Lula da Silva aos EUA, mostra que oito milhões de brasileiros deixaram de ser pobres
Um estudo conduzido pela financeira francesa Cetelem em parceria com o instituto de pesquisas Ipsos revela que as camadas sociais D e E, as mais baixas, eram o ano passado, 84,8 milhões de pessoas, ou seja, menos de metade da população (46 por cento).
Em 2005, aquelas classes sociais ascendiam a 92,9 milhões, ou seja, mais de metade da população brasileira (51 por cento). Isto significa que mais de oito milhões de brasileiros deixaram o "inferno da pobreza" para engrossar a classe média (nível C) em 2006.
Franck Vignard Rosez, director da Cetelem, citado pelo diário espanhol El País, disse que "2006 foi um ano enormemente positivo para as classes menos favorecidas". Os resultados deste estudo, para o qual foram ouvidas 1200 famílias em 70 cidades brasileiras, foram divulgados na véspera da chegada, hoje a noite, do Presidente do Brasil, Lula da Silva, aos Estados Unidos. O encontro com o homólogo norte-americano, George W. Bush, está previsto, segundo o Ministério de Relações Exteriores de Brasília, para amanhã, na residência oficial de Camp David.
Num programa de rádio, Lula da Silva disse que deverá abordar com Bush a questão dos investimentos em investigação nas áreas de biodiesel e etanol, tratar das negociações com a Organização Mundial de Comércio (OMC) e ainda sobre o desenvolvimento do Haiti, país das Caraíbas onde o Brasil comanda a força militar da missão de paz da ONU (Minustah) desde Junho de 2004.
Segundo Franck Vignard Rosez, uma combinação favorável de factores contribuiu para a mobilidade social da população. "O aumento da massa salarial, a inflação controlada e, especialmente, o crescimento do crédito com prazos esticados e juros cadentes fizeram o dinheiro render mais nas mãos do consumidor", justificou.
O estudo mostra que, pela primeira vez, sobrou dinheiro nos bolsos dos brasileiros com baixos rendimentos. Em 2006, as famílias das classes D e E conseguiram obter um saldo positivo de 2,49 reais (0,90 cêntimos) no fim do mês, após pagarem todas as despesas.
O saldo parece insignificante, mas indica o começo de uma mudança no poder de compra da população de baixos recursos. Em 2005, faltavam a essas mesmas famílias 16,56 reais (seis euros) para fechar as contas no fim do mês. Em relação ao rendimento familiar médio, todas as regiões ganharam em 2006, quando comparadas a 2005.
O estudo mostra ainda que a maior parte dos brasileiros pertence agora às classes médias e altas: 54 por cento integrou os patamares A, B e C em 2006. O grande destaque é o Nordeste, que reúne 25 por cento da população - a região que registou o maior crescimento (38 por cento) do rendimento médio familiar disponível.
Rosez destaca que, dos 12 items de compra analisados, a intenção de os adquirir aumentou em 11 deles.
"Tudo melhorou no Nordeste."
188
milhões é o número da população brasileira
84,8
milhões de pessoas nas classes D e E, o que corresponde a 46 por cento da população
66,7
milhões de pessoas pertence a classe C
36,5
milhões de pessoas na classe A e B
7
classes é como está dividida economicamente a sociedade brasileira (A1, A2, B1, B2, C, D, E)
350
reais é o valor do salário mínimo mensal brasileiro, cerca de 127,68 euros