Eduarda Ferreira, in Jornal de Notícias
Uma em cada três pessoas enfrenta problemas de abastecimento de água e uma em cada cinco tem grandes dificuldades em aceder a água potável num mínimo de 20 litros por dia. A estimativa pertence às Nações Unidas , que lembram hoje, através de mais um Dia Mundial da Água, a relação entre a falta deste bem, a pobreza e a doença. Portugal tem hoje uma taxa de fornecimento de água ao domicílio elevada (93%), mas as infra-estruturas não são só por si garantia de fornecimento secas prolongadas e mais frequentes, bem como a contaminação dos aquíferos, podem tornar-nos tão vulneráveis à escassez como acontece com os mais pobres do Mundo.
"Enfrentando a Escassez da Água" é a proposta de reflexão e acção feita pelas Nações Unidas, que integraram há há seis anos as questões da água nos grandes Objectivos do Milénio, fixando metas mundiais para 2015, no domínio da qualidade deste recurso e da sua distribuição a todos de modo justo. Hoje, Dia Mundial da Água, é lembrado que a escassez ocorre mais nas zonas áridas e semi-áridas do globo afectadas por seca e variabilidade climática, factores que se combinam com o aumento da população."
A escassez é uma questão de pobreza", afirma taxativamente o documento oficial da ONU sobre o tema deste 22 de Março, acrescentando que "a água imprópria para consumo e a falta de saneamento são o destino das pessoas pobres um pouco por todo o Mundo". Uma pessoa em cinco da população não chega a ter 20 litros de água potável, a quantidade considerada mínima. Os cálculos feitos sobre a disponibilidade global de água indicam que, em cada ano, haveria cinco a seis mil metros cúblicos por cada habitante da Terra, quando são suficientes 1.700. Mas também as reservas estão mal distribuídas geograficamente. Por exemplo, na Jordânia e outros países do Médio Oriente, a disponibilidade fica abaixo dos 200 metros cúbicos por pessoa. Não só aí são previsíveis conflitos por causa do acesso à água o documento da ONU admite uma série de factores a influenciar tal desfecho.
A população aumenta, cresce a necessidade de produzir alimentos (a agricultura gasta 70% do recurso) e será difícil evitar a poluição das reservas subterrâneas ou superficiais. De alguma forma, como sublinha o director-geral da Unesco, encarregado da mensagem sobre este dia, a escassez da água e a luta por este bem "são uma ameaça à paz e à erradicação da pobreza". Koichiro Matsuura lembra também que a falta de água não ocorre só nas zonas áridas e semi-áridas, mas que estas são mais vulneráveis por razões climáticas e por práticas não sustentáveis.
Para Portugal, os cenários climáticos indicam também maior escassez. A seca recente mostrou a vulnerabilidade das nossas reservas, apesar de estar garantida uma cobertura de 93% da população por sistemas públicos. Por enquanto, cerca de 600 mil portugueses ainda não têm garantia de acesso a água com qualidade.