Isabel Arriaga e Cunha, em Bruxelas, in Jornal Público
A Declaração foi escrita em duas línguas, inglês e alemão, e depois traduzida para os 23 idiomas oficiais da UE a O modelo europeu deve conciliar "sucesso económico" com "solidariedade social", ou com "responsabilidade social"? E a União Europeia deverá "aprofundar", ou limitar-se a "consolidar", o seu desenvolvimento interno ? Estas diferentes abordagens fazem parte da Declaração de Berlim que diz coisas diferentes consoante as línguas em está escrita.
Angela Merkel negociou detalhadamente os termos da Declaração em contactos bilaterais de forma a evitar intermináveis negociações a Vinte e Sete. As negociações, explicou a presidência, processaram-se a partir de propostas originais em alemão ou em inglês, que foram depois traduzidas para as 23 línguas oficiais da UE.
As traduções permitiram adaptar o texto à realidade e percepção de cada país e provocaram algumas diferenças na sua redacção, embora essencialmente de estilo linguístico. Com excepção de, pelo menos, a versão francesa, cujas diferenças face aos textos em inglês ou em português ultrapassam o carácter semântico e que correpondem, aliás, às sensibilidades particulares dos três países.
Franceses, belgas e luxembugueses partilham a mesma vontade de defender o "modelo social europeu" - uma expressão que ingleses, suecos e grande parte dos países de Leste recusaram ver no texto. O problema ficou resolvido com uma referência ao "modelo europeu" que concilia "sucesso económico com responsabilidade social" nos textos em português e em inglês. Já na versão francesa surge... "solidariedade social".
O mesmo desacordo rodeou a referência a futuros alargamentos da UE. Ingleses ou suecos queriam sublinhar a vocação da Europa para abrir mais as portas aos países, franceses, belgas e luxemburgueses pretendiam deixar claro que a entrada de novos membros está dependente da capacidade da UE para os absorver.
O texto de Merkel resolveu o problema evitando qualquer menção da palavra alargamento. Em sua substituição, a declaração afirma que a UE continuará a viver "da sua abertura", a par da "vontade dos seus Estados-membros para aprofundarem o seu desenvolvimento interno", segundo a versão francesa. Em inglês e português já não se trata de "aprofundar", mas apenas de "consolidar" o desenvolvimento interno da UE.