Teresa de Sousa, in Jornal Público
Foi com uma defesa apaixonada da Europa que Angela Merkel encerrou ontem, no Museu de História Alemão, a belíssima cerimónia que culminou as celebrações dos 50 anos do Tratado de Roma. Não foram tanto as palavras que encontrou para celebrar a história extraordinária do projecto europeu - foi a convicção que colocou em cada uma delas, num paralelismo entre a sua própria vida e a da Europa. A chanceler que nasceu na parte leste da cidade, que tinha 3 anos quando o Tratado de Roma foi assinado e sete quando o Muro de Berlim foi erguido, separando a sua família e oferecendo-lhe como único horizonte uma rua sem saída, lembrou aos líderes europeus a grande lição dos pais fundadores: transformar uma derrota numa oportunidade. E apresentou-lhes um programa completo para o futuro, mas muito simples: sozinho, cada um dos países da UE só dificilmente resolverá os desafios que tem pela frente. Da globalização à defesa do "modo de vida europeu", da paz à prosperidade, do sonho de moldar o mundo com a liberdade "que dá força aos indivíduos" e a tolerância que permite uni-los na diversidade.
Foi com graça que combateu os pessimistas e os cépticos, recordando o diplomata britânico que, em plenas negociações do Tratado de Roma, disse "não haver qualquer chance de alguma coisa vir a ser assinada, e, se viesse, nuca seria ratificada, e, se o fosse, nunca seria aplicada". Blair compreendeu a mensagem. E Merkel evocou também as palavras de um estadista francês sobre os tratados: "que são como as jovens raparigas e as rosas: duram o que duram". "Tudo isto é Europa", disse a chanceler, "o cepticismo, as contradições, a diversidade e também os múltiplos clichés a que nos agarramos." Mas é sobretudo "coragem".
Durão Barroso começou o seu discurso lembrando o que a Europa deve ao empenho e à solidariedade da Alemanha, até para defender a importância dos alargamentos num mundo "em que a dimensão conta". Citou Schuman para dizer que "já não é o momento para as palavras vãs, mas para actos construtivos" e lembrou aos líderes europeus que não devem olhar para a União "como uma potência estrangeira". Devem antes ter a vontade política de abrir, não de fechar, de serem corajosos e não timoratos, devam dar à Europa a capacidade de agir, com instituições que a equipem para a globalização.
Não houve a menor dessintonia entre os quatro oradores - além de Merkel e de Barroso, Prodi, primeiro-ministro do país onde foi assinado o Tratado de Roma, e Hans Gert Pottering, presidente do PE. Todos convergiram na visão de uma Europa unida, institucionalmente forte e democrática, capaz de agir externamente. Quando soaram os acordes da Ode à Alegria, os 27 chefes de Estado e de governo ergueram-se sem um gesto ou um suspiro. Preparar a Europa para os próximos 50 anos "é o teste que enfrenta uma geração de líderes apenas uma vez na vida", disse Barroso. E não nos seprara "do mais negro período de ódio e de destruição da história da Europa a duração de uma vida", disse Merkel. Pelo que ninguém se engane, o mundo não esperará pela Europa o tempo todo. Durão Barroso citou Schuman: "Já não é o momento para as palavras vãs, mas para actos construtivos".