in Diário de Notícias
Entrevista com Muhammad Yunus - Prémio Nobel da Paz
Como define o momento presente da nossa civilização?
É muito excitante. Se o seu editor lhe pedisse para escrever sobre o que vai acontecer em 2020 seria ficção científica, porque não sabe. Se recuasse 20 anos, tentando imaginar o que aconteceria hoje, seria ficção. Nessa altura, nem o fax existia e a internet, nem pensar.
Quem pensaria no Youtube, ou no Ipod?
Escolheu a palavra excitante.
Que outras lhe vêm à cabeça?
Potencial, ilimitadas possibilidades. É difícil hoje em dia dizer que alguma coisa é impossível
Quem ousava dizer há 30 anos que a URSS se iria desintegrar?
Mas eliminar a pobreza parece estar a ser mais impossível...
Mas nunca ninguém acreditou que a pobreza era algo ultrapassável. O discurso e a prática assentam nesta ideia: vamos viver com a pobreza e facilitar a vida aos pobres, dando--lhes água e comida. O que digo é que a pobreza é anti-natura, é imposta. Só no ano 2000 os líderes mundiais se comprometeram a reduzir a pobreza para metade até 2015. Tal nunca tinha acontecido.
Qual é o modelo político que melhor serve o seu projecto e os seus ideais?
O modelo que está a ser praticado em todo o mundo é o capitalismo, embora com muitas variações. Até as economias socialistas, como a China e o Vietname, estão a incorporar o sistema capitalista. Mas para mim o capitalismo é uma espécie de história que só foi contada a metade, não está desenvolvido. Digo isto porque o item importante no capitalismo, o motor, é o negócio. Mas tem uma definição muito estrita. Diz que o negócio é só para fazer dinheiro, maximização dos lucros. Isto é muito redutor, como se o ser humano só pudesse fazer dinheiro. É uma visão unidimensional do ser humano. A mesma pessoa que quer fazer dinheiro é a mesma pessoa que é afectuosa, preocupada com os outros. Mas isto não está assumido no nosso sistema. Então a solução é o negócio social, um sector - dentro do capitalismo - que trate de muitos dos problemas que o capitalismo criou. A missão é fazer bem às pessoas, sem a preocupação do lucro.