10.4.08

FMI prevê que crise mundial adie retoma portuguesa por pelo menos mais dois anos

Sérgio Aníbal, in Jornal Público

Depois de 1,9 por cento em 2007, os anos de 2008 e 2009 vão ser uma desilusão para quem está à espera de mais crescimento em Portugal. A culpa é da conjuntura internacional


Com os Estados Unidos quase estagnados durante dois anos e a Europa a colocar um ponto final no período de crescimento acima do potencial, Portugal não conseguirá resistir a esta onda negativa e registará este ano um recuo para a mesma taxa de crescimento de 2006, adiando o objectivo de retoma, pelo menos, até 2010.

Este é o cenário negro ontem traçado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) no seu relatório semestral e que constitui, até ao momento, a projecção mais desfavorável entre todas as instituições internacionais. Para Portugal, a concretizarem-se as expectativas do Fundo, a economia irá abrandar este ano para uma taxa de crescimento de 1,3 por cento, depois de ter registado uma aceleração de 1,9 por cento em 2007. Em 2009, poucas são as melhorias, com a economia a não conseguir mais do que uma ligeira aceleração para 1,4 por cento.

Ficam assim muito distantes as previsões que são feitas pelo Governo, que está à espera de um crescimento económico de 2,2 por cento este ano e de 2,8 por cento em 2009. E ainda longe as previsões do Banco de Portugal de dois e 2,3 por cento, respectivamente. Mesmo os departamentos de research dos principais bancos portugueses, que já apontam para uma variação em torno de 1,8 por cento este ano, não assumem uma travagem tão forte da economia nacional.

O que explica estas expectativas tão negativas do FMI? Em primeiro lugar, o facto de serem as projecções mais recentes. Nas últimas semanas, as notícias de um abrandamento forte acentuaram-se tanto a nível internacional como nacional, neste caso com um desempenho mais fraco nos primeiros meses deste ano de indicadores como as exportações, investimento ou confiança dos consumidores. No entanto, só isso não explica a diferença. Na terça-feira, o governador do Banco de Portugal assumiu que teria de corrigir em baixa a sua previsão de crescimento para Portugal este ano, mas colocou um limite nessa revisão nos 1,7 por cento de crescimento que o BCE (e portanto o Banco de Portugal) prevê para a Zona Euro.

Mundo arrasta Portugal

O resto da explicação tem então a ver com o nível de degradação da conjuntura internacional de que as várias instituições estão à espera.

O FMI mostrou ontem, com o relatório apresentado, que é neste momento a instituição internacional que espera um impacto mais negativo da crise financeira, quer nos Estados Unidos, quer na Europa. Como consequência, Portugal sai inevitavelmente prejudicado, seja por via do aperto no crédito, seja pela quebra da procura proveniente dos países principais clientes das suas exportações.

Aliás, tal como acontece com o Banco de Portugal e do próprio Governo, o Fundo coloca a economia portuguesa, em 2008, a crescer a um ritmo muito próximo do que está à espera para a média europeia. No caso das previsões do FMI, o crescimento nacional fica apenas uma décima de ponto abaixo da média europeia. No caso do Banco de Portugal, uma décima de ponto acima. O problema está no nível de crescimento que é esperado para a própria Zona Euro.

Mas o que é certo é que em ambas as projecções está implícita a expectativa de que Portugal resista ligeiramente melhor do que os seus parceiros europeus aos efeitos da crise. Para o FMI, o abrandamento de 0,6 pontos percentuais esperado para Portugal entre 2007 e 2008 é o terceiro mais moderado entre os 15 países da Zona Euro e, em relação às previsões para 2009, Portugal está incluído no grupo de quatro economias em que se espera uma recuperação.

Como nota de optimismo, o FMI espera que em Portugal, apesar do abrandamento previsto, se consiga em 2008 e 2009 uma ligeira redução da taxa de desemprego face ao valor de 2007.