10.4.08

Efeito da crise financeira mais profundo e prolongado do que o previsto

Por Sérgio Aníbal, in Jornal Público

Os cenários mais pessimistas até agora apresentados para a economia mundial foram ontem todos superados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

A crise financeira internacional ainda está longe de ficar resolvida, os efeitos na economia vão ser profundos durante este ano e, mais grave do que tudo, o ano de 2009 não vai ser o da recuperação, como até agora todas os governos e organizações internacionais previam. Por cima de tudo isto, o FMI ainda acaba por afirmar que este é apenas o cenário central, e que se os piores riscos se concretizarem tudo pode ainda ser mais grave.

Vários responsáveis políticos, incluindo os portugueses, apressaram-se a classificar as previsões do FMI de "pessimistas". E, de facto, é difícil encontrar sinais de optimismo no relatório semestral de Primavera da entidade sedeada em Washington. Nos Estados Unidos, onde tudo começou, a economia vai cair durante este ano numa recessão moderada, registando ainda uma quase estagnação nos dois próximos anos. Na Europa, o continente que mais sofre efeitos de contágio, assiste-se a um corte quase para metade do ritmo de crescimento.

Contas feitas, para a totalidade do Globo, o crescimento da economia mundial não superará os 3,7 e 3,8 por cento em 2008 e 2009, um resultado que fica entre os mais baixos das últimas décadas. E o FMI avisa: existe uma probabilidade de 25 por cento da economia mundial registar uma recessão, que é definida como uma taxa anual de variação do PIB do Globo inferior a três por cento.

A responsabilidade por este cenário é, claro, da crise a que se assiste nos mercados de crédito e imobiliário, classificada pelo FMI como o "maior choque financeiro desde a Grande Depressão". "O maior risco vem dos acontecimentos ainda em progressão dos mercados financeiros", especialmente pela perspectiva de que o actual aperto de crédito se possa "transformar num completo corte de crédito". Neste cenário, os bancos limitariam fortemente o financiamento às famílias e às empresas, prejudicando ainda mais o consumo e o investimento e tornando inevitável uma recessão à escala mundial.

Os países emergentes e em desenvolvimento, mais afastados dos problemas que se vivem nos mercados financeiros ocidentais, vão resistindo. De acordo com o FMI, o crescimento vai ser forte na Ásia e na África, apenas com um ligeiro abrandamento.