Eduarda Ferreira, in Jornal de Notícias
Presidente exorta a que a sociedade valorize envelhecimento activo
O envelhecimento da população não deve ser visto como ameaça ou fardo para o bem-estar das novas gerações, defendeu ontem o presidente da República na sessão de abertura do Fórum Gulbenkian de Saúde dedicado à análise da evolução demográfica em Portugal e no mundo. Para Cavaco Silva, falta pôr em prática "soluções mais flexíveis de transição da vida activa para a velhice".
Os diversos agentes da sociedade e em particular as empresas mereceram ontem críticas por parte do presidente da República, por não favorecerem práticas de envelhecimento activo através de "soluções que permitam uma combinação de trabalho, lazer e aprendizagem" aos cidadãos que estão a entrar na terceira idade. Cavaco Silva considera errada a perspectiva pela qual, diz, tem sido abordado o envelhecimento e que se centrará sobretudo nos custos que o fenómeno acarreta.
Para o presidente da República está a haver "todos os anos" o desperdício de "um capital que poderia ser muito útil para as empresas, para os trabalhadores mais jovens, para as organizações da sociedade civil". No que toca às empresas, afirmou Cavaco Silva que se questiona " sobre se a obsessão àcerca do contínuo rejuvenescimento dos seus trabalhadores se traduz sempre num ganho efectivo de eficiência e se tal não poderá contribuir para um défice de identidade, de cultura organizacional e, mesmo de rentabilidade". Na mesma linha, contrariou o que considera ideia feita, segundo a qual "cada cidadão reformado representa mais um posto de trabalho liberto para um jovem trabalhador". "Tal seria verdade" referiu, em sociedades pouco dinâmicas e com fraca mobilidade profissional, o que não se aplicará necessariamente às sociedades de hoje. Ainda no entendimento do presidente da República, nas actuais sociedades, em que se diz valorizar o conhecimento e a experiência, é "paradoxal" que o conhecimento acumulado não seja aproveitado.
Cavaco Silva afirmou ainda estar convicto de que a forma como a nossa sociedade encara os idosos é responsável por parte da pressão destes sobre os sistemas de saúde, ao procurarem os profissionais "como um refúgio onde se tenta encontrar um pouco mais de atenção e carinho."