27.2.09

Confiança das famílias ao mínimo em 22 anos

Rudolfo Rebêlo, in Diário de Notícias

Conjuntura. Para os portugueses, Fevereiro foi o mês mais negro dos últimos anos. A confiança dos consumidores, empreiteiros, industriais e lojistas atingiu o ponto mais baixo. Famílias dizem que vão adiar compras de bens como automóveis e os industriais queixam-se da fraca procura


Fevereiro é um mês negro. Um rol de queixas sobre a capacidade de melhorar o rendimento ou sequer de constituir um pé-de-meia colocou a confiança das famílias no ponto mais baixo dos últimos 22 anos. Aumentou o número de portugueses que nos últimos 12 meses relatou dificuldades financeiras do seu agregado familiar e os que declararam ao INE que não conseguem, actualmente, poupar dinheiro.

Um inquérito a dois mil portugueses, efectuado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), demonstra que as perspectivas financeiras das famílias para os próximos 12 meses são más. Pela amostra, a maioria dos consumidores teme o desemprego e afirma que a situação financeira doméstica vai piorar nos próximos tempos. É que, endividados, se hoje já não conseguem poupar, também não o conseguirão nos próximos meses.

Comprar bens duradouros como carros ou electrodomésticos nos próximos meses? Talvez influenciados pelo medo do desemprego - ou mesmo pelas notícias pessimistas sobre o andamento da economia - a esmagadora maioria dos inquiridos está céptica quanto à possibilidade de se "meter" em grandes compras.

Uma esmagadora maioria dos consumidores não tencionava (em Fevereiro) comprar carro - novo ou usado - nos próximos 12 meses. Tão-pouco promover obras em casa ou mesmo comprar habitação com recurso a empréstimo bancário.

Os lojistas confirmam o pessimismo dos consumidores. A maioria afirma que é a escassa procura o maior obstáculo à actividade.

Neste mês aumentou o números de comerciantes assegurando que as vendas pioraram nos últimos três meses. E para os próximos três meses há cada vez mais lojistas a afirmarem que o movimento das caixas registradoras será menor, a avaliar pelo indicador da actividade.

Na cadeia do comércio, também os grossistas relatam dificuldades. As apreciações sobre o volume de vendas registaram um novo mínimo desde Junho de 1994. Menos encomendas à actividade tiveram como consequência menos ordens de importações de produtos, de acordo com inquérito realizado em Janeiro.

Também os industriais estão com a moral no ponto mais baixo dos últimos 20 anos. Esta fraqueza no "estado de alma" tem como base a fraca carteira de encomendas, a baixa expectativa da produção fabril e de exportações, bem como o nível dos stocks de produtos acabados.

Uma insatisfação que já vem de trás. Em Fevereiro, aumentou o número de industriais que relatam uma queda da produção nos últimos três meses, bem como os que se queixam da fraca procura interna e externa, o que está em linha com as estimativas divulgadas sobre o estado da economia portuguesa e europeia.

Para o próximo trimestre, a maioria dos industriais (no sector dos bens de consumo) não antecipa uma melhoria da actividade. Pelo contrário, afirma que a produção vai descer. Pelo sexto mês consecutivo, o número de semanas de produção assegurada caiu - passando para as 22,8 semanas - e há mais empresários com expectativas negativas em relação às exportações. Ao mesmo tempo, o esmagamento das margens comerciais (para ganhar competitividade) ou reflexo da queda no custo das matérias-primas, a verdade é que há mais gestores a relatarem um eventual queda de preços à saída das fábricas.

Os construtores de obras públicas continuam deprimidos. A produção assegurada baixou para oito meses (nove meses em Janeiro) e há relatos de aumento de entraves ao crédito bancário.