Isabel Arriaga e Cunha, Bruxelas, in Jornal Público
Comissário pediu a todas as autoridades para terem cuidado quando fazem declarações. "Os mercados estão nervosos e às vezes não percebem certas afirmações"
A volatilidade das moedas de vários países de Leste e a vulnerabilidade crescente dos seus bancos está a preocupar cada vez mais a União Europeia (UE), que não dispõe, por agora, de mecanismos globais de ajuda.
Joaquin Almunia, comissário europeu responsável pela economia e finanças, reconheceu ontem que está "preocupado com a volatilidade das taxas de câmbio nos países da UE com regimes flutuantes". A afirmação refere-se sobretudo à Polónia, Hungria, República Checa e Roménia, que sofreram nos últimos dias quedas muito consideráveis do valor das moedas - agravando as suas dificuldades de reembolso de dívidas expressas em euros - e uma fuga contínua de capitais ao ritmo da degradação da economia. Terça-feira foi um dia de turbulência particularmente acentuada, alimentada pelas incertezas que reinam sobre a situação dos seus bancos e riscos de novos abandonos de capital.
Mas Almunia afirmou-se igualmente "preocupado com a possibilidade de algumas declarações públicas terem acelerado esta evolução", por exacerbarem o nervosismo dos mercados. Mesmo se não precisou o objecto da crítica, o comissário pediu assim a "todas as autoridades nacionais para terem cuidado quando fazem declarações públicas, porque os mercados estão muito nervosos e às vezes não percebem bem certas afirmações".
Como pode a UE ajudar
Apesar das preocupações expressas, os europeus não dispõem de mecanismos de ajuda adequados. Hungria e Letónia receberam apoios financeiros significativos no quadro de programas de estabilização conjuntos entre a UE e o Fundo Monetário Internacional (FMI). A Roménia está a ponderar pedir uma ajuda idêntica.
A Áustria, um dos países mais vulneráveis da UE à evolução económica dos vizinhos do Leste, devido, nomeadamente, à forte exposição dos seus bancos, pede há varias semanas um programa de ajuda a estes países - que incluiria alguns Estados extra-comunitários como a Ucrânia, Sérvia e Croácia - de modo a evitar que a degradação acelerada da sua situação tenham efeitos negativos sobre o resto da UE.
Este apelo foi ontem ecoado pelo primeiro-ministro da Hungria, Ferenc Gyurcsany, que defendeu em Budapeste a criação de um plano europeu de 100.000 milhões em ajuda aos bancos em dificuldades.
Segundo Joaquin Almunia, a UE está disposta a ajudar estes países para evitar um agravamento da crise, embora frisando que os mecanismos serão diferentes consoante se trate de países-membros ou exteriores à UE. "Não podemos dar a todos o mesmo tipo de ajuda, temos de diferenciar em função das diferentes posições de cada um destes países relativamente aos nossos instrumentos", frisou.
Já a presidência checa da UE frisou que esta questão será analisada pelos líderes dos Vinte e Sete durante a cimeira especial convocada para 1 de Março, dedicada à crise económica e financeira.