Licínia Girão, in Jornal de Notícias
"Desisto de desistir". Foi com a criação deste slogan que lhe irá nortear os passos futuros que terminou, esta terça-feira, na Lousã o primeiro encontro de jovens cegos.
Durante três dias, 10 jovens de todo o país, incluindo Açores, em representação de outras tantas delegações, das 13 que constituem a ACAPO - Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal, responsável pela organização do evento, trocaram ideias e experiências que lhe permitem agora dar início a um conjunto de iniciativas locais e nacionais que virão a culminar na criação de um documento que pretendem fazer chegar a governantes e instituições que "parecem alheadas dos problemas que enfrentamos no dia-a-dia", como referiram ao JN.
Os jovens dizem sentir-se por vezes mais ultrajados e diminuídos, não pela sua deficiência, nem pela forma como a encaram, mas, sobretudo, pela maneira como são tratados pela sociedade.
Desejam apenas ser tratados como iguais com direito a terem, por exemplo, disponíveis atempadamente, os livros e materiais escolares que necessitam, mas que chegam a ser entregues praticamente no final dos anos lectivos.
Madalena Ribeiro tem 23 anos, frequenta no Porto um mestrado em Tradução Especializada de Inglês e Alemão. Nasceu cega, mas "nunca me esconderam e proporcionaram-me condições para que tivesse acesso ao ensino e a uma vida normal", refere a jovem que tenta agora ultrapassar as frustrações da rejeição social que diz sentir-se vítima. Não passa da entrevista numa candidatura a um emprego e, tal como tantos outros, cuja mera aparência física não deixa antever a cegueira, é por vezes humilhada quando em determinadas situações a acusam de se fazer passar por cega para obter privilégios.