Ana Paula Correia, com Lusa, in Jornal de Notícias
Oposição insiste em confrontar primeiro-ministro com a falta de resultados no combate à crise
A situação económica e social do país é o tema comum das perguntas que a Oposição fará, esta quarta-feira, a Sócrates, em mais um debate quinzenal, no Parlamento, onde o assunto voltará quinta-feira, numa interpelação do BE ao Governo.
O tema começará logo a abrir o debate. O grupo parlamentar do PCP, ao qual cabe, regimentalmente, abrir a sessão, já anunciou questões centradas nas políticas económicas e sociais. BE e CDS-PP fizeram a mesma opção e, apesar de só esta manhã serem divulgadas as escolhas de democratas- cristãos e Verdes, tudo indica ser difícil ao primeiro-ministro escapar à insistência do maior partido da Oposição no balanço dos resultados do combate à crise.
Para o retrato social do país desenhado à Esquerda à Direita, contribuem os números divulgados na segunda-feira, pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional, ao revelaram que, em Janeiro, mais 70 mil pessoas inscreveram-se nos centro de emprego. O que significa o segundo maior pico de crescimento nos últimos trinta anos, só batido em Setembro de 2004.
É ainda no contexto da crise que Sócrates será "obrigado" a explicar a decisão do Ministério das Finanças de não conceder mais nenhum aval público ao BPP, em resultado da qual a falência do banco será uma inevitabilidade.
Já ontem os partidos da Oposição exigiram explicações do Governo e anunciaram que irão confrontar o chefe do Governo e o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, com a "nebolusidade" que envolve a aplicação o aval de 450 milhões de euros já concedido ao BPP.
Genericamente, os deputados vão quer "saber tudo" sobre a utilização de recursos públicos em instituições financeiras privadas e, em particular os de Esquerda, desafiarão o Executivo a mudar o rumo da política de concessão de apoios estatais.
Os socialistas, como é habitual no Parlamento, cumprirão o papel de amortecedor das críticas à política do Governo. Desta vez, escolheram o plano tecnológico como almofada temática para a tarde parlamentar de hoje.
A crise económico/financeira e as suas consequências não serão, contudo, a única dor de cabeça, com que a Oposição tentará atingir o primeiro-ministro.
No último debate quinzenal, no passado dia 11, o Governo escolheu o tema genérico da economia, mas o caso Freeport marcou o debate, com uma troca violenta de acusações entre o primeiro-ministro e o líder parlamentar social-democrata, Paulo Rangel, com o primeiro-ministro a acusar o PSD de desenvolver uma campanha "negra" e pessoal contra si.
Desta vez, não passará sem referência a "deriva censória", como designa o BE, dos últimos dias, ilustrada com o caso do desfile carnavalesco de Torres Vedras e, em particular, da apreensão, em Braga, pela PSP por alegado conteúdo pornográfico, de um livro cuja capa reproduzia o quadro "A origem do mundo", de Gustave Courbet, do século XIX, actualmente exposto no Museu d'Orsay, em Paris.