João Ramos de Almeida, in Jornal Público
Os números do mês passado prolongam uma tendência já visível desde meados de 2008 e revelam o segundo maior pico de crescimento dos últimos 30 anos
Foi a segunda maior subida mensal em 30 anos, depois de Setembro de 2004. Só em Janeiro passado registaram-se nos centros de emprego 70 mil novos desempregados. Quase todos as actividades contribuíram para a subida do desemprego e apenas o Estado parece fazer contracorrente. O desemprego entre os licenciados voltou a aumentar.
Os dados do desemprego inscrito ontem divulgado pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) mostram que a tendência de subida é inegável. Todos os indicadores do desemprego acentuaram o seu declive ascendente.
Os números de Janeiro passado não são, todavia, os mais altos de sempre. Nesta última década, que apresentou os níveis mais elevados de desemprego, o pico situou-se ao longo da segunda metade de 2005 até ao início de 2006, em resultado da recessão de 2003. Na altura, chegou-se aos 491 mil desempregados registados.
Mas os valores de Janeiro passado não só se aproximam já desse nível, como revelam uma trajectória abrupta de degradação. Só num mês inscreveram-se mais 70 mil desempregados, o que - apesar de Janeiro ser sempre um mês de queda do emprego - representa um prolongamento da trajectória de subida. Se o número de desempregados inscritos em Junho de 2008 tinha crescido 10,5 por cento face a Junho de 2007, agora, em Janeiro passado, a subida foi de 27,3 por cento face a Janeiro de 2008.
Sinal dessa aceleração é igualmente o crescimento mais rápido do número de desempregados inscritos há menos de um ano e, por outro lado, de estar a ser cada vez mais difícil a colocação dos desempregados há mais de um ano. A prova é que caiu tanto o número de ofertas de emprego ao longo de Janeiro, como o das colocações pelos centros de emprego.
Os valores da execução orçamental, divulgados ontem pela Direcção-
-Geral do Orçamento, confirmaram a tendência. Em Janeiro, as despesas com o subsídio de desemprego aumentaram 8,6 por cento, face a Janeiro de 2008.
A subida do desemprego foi generalizada em todo o país (mais 12,1 por cento). Mas continua a sangrar sobretudo o Norte, que concentra 43 por cento do desemprego inscrito, e a região de Lisboa e Vale do Tejo, com 29 por cento.
Por ramos de actividade, são ainda a construção e as actividades ligados ao imobiliário as mais afectadas. Em Janeiro, eram já 97 mil pessoas inscritas. A seguir, surge o comércio grossista e o retalhista, com mais 50 mil desempregados.
Mas se o desemprego começou nos serviços, a indústria já foi tocada. Em Janeiro passado, o número de trabalhadores industriais representava mais 20,3 por cento do que em igual período de 2008. E o sector têxtil só começou a contribuir para o desemprego desde Dezembro passado. E com subidas pronunciadas.
As mulheres são ainda as mais lesadas (56 por cento do total). Mas a perda do emprego entre os homens está a acelerar-se. O desemprego afecta todos os níveis de instrução, sobretudo os menos qualificados (35 por cento do total). Mas a novidade é que o número de licenciados desempregados (9 por cento do total) voltou a crescer e já contribui para a subida do desemprego registado.
O fim do optimismo
Os números do IEFP deitam por terra algum optimismo que poderia ter subsistido após a divulgação na semana passada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) dos valores da taxa oficial de desemprego para o quarto trimestre de 2008. A taxa situou-se em 8 por cento, correspondendo então a um ligeiro crescimento face à de 7,8 por cento do terceiro trimestre do mesmo ano.
Essa ténue variação apanhou de surpresa o próprio Governo, que esperava uma degradação mais rápida. O primeiro-ministro considerou os números como "animadores" e um sinal de que, "apesar de tudo, a nossa economia continua a progredir e a criar emprego". Já o ministro do Trabalho foi mais cauteloso e lembrou que os problemas não estavam "ultrapassados".
Mas os números do INE não eram o retrato actualizado da conjuntura (ver caixa). Há já vários meses que os valores dos centros de emprego vinham dando sinais de que o mercado de trabalho se estava a degradar. Desde Julho passado que vários sectores registaram subidas do desemprego (construção, imobiliário e hotelaria).
Ao longo do terceiro trimestre de 2008, juntaram-se outros sectores (vestuário, indústrias petrolíferas, comércio, entre outros). No final de 2008, já só algumas actividades não estavam a contribuir para a subida do desemprego. A sua esmagadora maioria registava uma subida de desemprego no final do ano. Os valores de Janeiro passado apenas prolongam abruptamente uma tendência já assinalada antes e nunca assumida pelas autoridades.
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