Erika Nunes, in Jornal de Notícias
Desemprego terá pico máximo em 2010, altura em queo crescimento poderá começar a recuperar lentamente
"Hemorragia económica" é a expressão com que a OCDE resume a situação mundial actual. O relatório que a organização apresentou esta terça-feira prevê ainda que a dívida pública portuguesa suba para 85,9% em 2010.
Recessão generalizada, representando "a pior crise desde há 50 anos" no Mundo, é o cenário traçado pelo relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), ontem divulgado. A organização prevê, para este ano, uma recessão de 4,3% nos 30 países membros, mantendo ainda uma evolução de -0,1% em 2010. Na Zona Euro, a actividade económica deverá recuar 4,1%, este ano, e -0,3% em 2010.
O Banco Mundial confirmou, ontem, o cenário mais negro "desde 1929", prevendo uma descida de 1,7% do PIB dos países mais ricos, com a Europa de Leste e a Ásia Central na pior posição (-2% do PIB).
De acordo com a OCDE, pela primeira vez desde o início dos anos 90, a taxa de desemprego manter-se-á a níveis altos, rondando os 10% na maioria dos países, com o seu pico mais alto em 2010 e, possivelmente, ainda no início de 2011. A Zona Euro será a mais fustigada, com uma subida do desemprego de 9,9%, este ano, para 10,9%, no ano seguinte. O Japão, por exemplo, apenas terá a sua taxa de desemprego mais elevada (5,7%) no final do próximo ano, tal como os EUA, que contarão com uma taxa de 10,5%.
Quanto à inflação na Zona Euro, a OCDE prevê que ronde os 0,6% até ao Verão, passando a 0,1% antes de voltar a 0,6% no fim do ano. Quer os EUA, quer o Japão, deverão entrar em deflação a partir deste trimestre, com taxas de -0,6% e -0,9%, respectivamente.
As previsões da OCDE são já uma correcção, para pior, de um cenário que avançara em Novembro passado. Na altura, a organização previu um recuo de apenas 0,4% nos países membros e um crescimento da economia de 1,5% logo em 2010.
Por isso, o apelo lançado ontem foi directo ao Banco Central Europeu (BCE): "A perspectiva negativa para a actividade económica na Zona Euro e a queda evidente da inflação pede que seja utilizada em toda a sua extensão a margem para o corte das taxas de juro". Espera-se, assim, que o BCE decida, amanhã, descer as taxas de juro para 1%, um nível histórico apenas justificado pelo cenário "catastrófico".
Além de "insuficientes", as medidas tomadas pelos governos para fazer face à crise estão também a fazer pesar as respectivas dívidas públicas. Tais medidas farão com que a dívida pública nacional tenha passado de 70,7%, no ano passado, para 85,9% no próximo ano. No passado mês de Janeiro, o Governo anunciara, no Orçamento de Estado Suplementar, que a actual dívida é de 69,7% e que, em 2010, ficar-se-ia pelos 70,5%. Um valor demasiado optimista, na perspectiva da OCDE, de que poucas economias no Mundo poderão, então, gabar-se.