Isabel Gorjão Santos, in Jornal Público
Em 2030, meio milhão de pessoas morrerá por ano devido ao aquecimento global, diz um relatório da organização Global Humanitarian Forum
Fome, doenças e desastres naturais provocados por alterações climáticas estão a causar cerca de 315 mil mortes por ano, e as previsões apontam para que esse número aumente para meio milhão em 2030, diz um relatório ontem divulgado pela organização Global Humanitarian Forum (GHF).
"As alterações climáticas são o maior desafio humanitário do nosso tempo e causam o sofrimento de centenas de milhares de pessoas em todo o mundo", disse em comunicado o antigo secretário-geral da ONU Kofi Annan, que agora preside à GHF. "Os primeiros a ser atingidos e os mais afectados são os grupos mais pobres do mundo, que fizeram menos para causar o problema", adiantou Annan, citado pela Reuters.
Segundo este relatório, são os países em desenvolvimento que sofrem mais de 90 por cento das consequências humanas e económicas do aquecimento global, ainda que os 50 países mais pobres contribuam com menos de um por cento das emissões de carbono que estão a aquecer o planeta.
As alterações climáticas estão a afectar anualmente 325 milhões de pessoas, segundo a estimativa da GHF, mas esse número deverá duplicar em 20 anos, o que significa que 10 por cento da população mundial - actualmente cerca de 6700 milhões de pessoas - será atingida.
Haverá também um aumento das perdas económicas associadas ao aquecimento global, que actualmente são de 125 mil milhões de dólares (mais de 88 mil milhões de euros) por ano, mas que até 2030 aumentarão para bem mais do que o dobro e deverão chegar aos 340 mil milhões de dólares, adianta o relatório. E estas perdas já são mais do que a ajuda prestada pelos países ricos aos mais pobres.
Perante as conclusões da GHF, Kofi Annan lançou um apelo aos países que irão reunir-se em Dezembro em Copenhaga, na Dinamarca, para que cheguem a acordo sobre o documento que deverá suceder ao protocolo de Quioto e que se pretende que venha a estabelecer medidas para a redução de emissões de dióxido de carbono. Na segunda-feira, em Bona, Alemanha, começará a ser debatido o texto que servirá de base a um eventual acordo na Dinamarca.
O mais ambicioso
"Copenhaga terá de ser o mais ambicioso acordo internacional alguma vez negociado", defendeu Annan na introdução do relatório.
O documento refere várias situações preocupantes, como o caso do Bangladesh, onde milhões de pessoas são regularmente afectadas por inundações ou ciclones. Ou o caso do Uganda, sistematicamente afectado pelas secas, e das ilhas das Caraíbas e do Pacífico ameaçadas pelo aumento do nível das águas do mar.
Caso o nível de emissões de dióxido de carbono não sejam controladas, em 25 anos haverá mais 310 milhões de pessoas a sofrerem problemas de saúde devido ao aumento da temperatura, mais 20 milhões na pobreza e mais 75 milhões de deslocados devido às alterações climáticas, adianta a GHF.