in Terras do Vale do Sousa
A crise económico-financeira tem feito disparar a pobreza escondida no concelho de Lousada e na Região do Vale do Sousa e Baixo Tâmega. Segundo Vasco Bessa, responsável pela AMI/Lousada, este fenómeno tem atingido proporções verdadeiramente galopantes verificando-se um total de 20 casos por dia. Uma grande maioria dos casos está relacionada com situações de pobreza extrema, famílias carenciadas que dependem de subsídios da Segurança Social e que têm extrema dificuldade em gerir o seu património. "Uma grande maioria é subsídiodependente e não procura formas de subsistir sem estar dependente dos outros. As pessoas estão habituadas a chegar ao final do mês e receberem o Rendimento Social de Inserção. Passam a vida nos cafés. Essa não é a via mais correcta para resolver o problema. Estamos a falar de uma pobreza de espírito. Estão habituadas a que a Segurança Social lhes pague os apartamentos", sublinhou Vasco Bessa.
Por outro lado, a designada pobreza escondida, aquela que fica entre as quatro paredes, também tem vindo a aumentar. "Existem mesmo casos dramáticos de pessoas no concelho que chegam a passar fome. A verdadeira pobreza é a que está escondida dentro de casa. Faço um apelo às pessoas que nos dêem conhecimento destas situações", alerta o responsável pela AMI/Lousada.
“A vergonha de dizer que passa fome”
“Tive conhecimento de uma caso em Meinedo de uma senhora que tem o marido em Vila Real internado com uma doença pulmonar grave e vive com 150 euros de baixa porque o marido não tem qualquer reforma. Andava a pedir dinheiro a uma vizinha para pagar as despesas. Tinha vergonha de dizer que passava fome e o mesmo acontecia com os seus filhos", revelou.
"Há um outro caso, em Nevogilde, de um casal com dificuldades financeiras muito graves. Quando contactei aquela família percebi que toda ela estava ávida de recursos, passava fome. O marido não tinha segurança social porque nunca tinha descontado, a esposa trabalhava numa fábrica mas teve de ir para casa tomar conta do marido. Os filhos estão desempregados", sustentou.
Amigos e vizinhos têm um papel importante
Segundo Vasco Bessa normalmente são os vizinhos e os amigos que vêm ter com a instituição e dão conhecimento dos casos. "Mesmo quando vou pessoalmente falar com essas pessoas, elas escondem-se, têm vergonha", sustentou numa alusão ao estigma social que regra geral envolve estas situações e que leva a que as pessoas prefiram sofrer em silêncio. "Muitas perdem o emprego, os meios de subsistência e fecham-se. Se vêm à AMI buscar alguma coisa, fazem-no com a maior discrição, optam por transportar a comida ou a roupa em invólucros fechados para que as pessoas não consigam ver o seu conteúdo", conferiu ainda.